sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
quero-te tanto..mas tanto!
quero-te tanto, mas tanto
q' em alvoroço vou à lua
anda a saudade enquanto
não te vejo na minha rua
guardo na gaveta secreta
versos que são um encanto
gaveta de versos repleta...
eu a olhar-te com espanto
de saudade a transbordar
não vejo hora ou prevejo
de olhar esse teu olhar
ou a esperança dum beijo
teus olhos são malfeitores
olham os meus de soslaio
quando velhinho tu fores
hei-de lembrar-te catraio
quero-te tanto, mas tanto
não consigo dar um passo
se não te vejo entretanto
é em sonho q' eu te abraço
meus sonhos são alquimia
a teus olhos me acorrento
numa prisão noite e dia
lânguidos sonhos invento.
natalia nuno
rosafgo
domingo, 8 de fevereiro de 2015
à minha terra.../10/1995 (quadras soltas)
minhas memórias desafio
moinho que mói o grão
nas águas francas do rio
por lá deixei o coração...
sonhos hospedam-se aí
saudade trago no peito
vim de longe me perdi
ora lágrimas são o efeito
bebo destas lembranças
embalo-as nos m'abraços
sonhos velhos, esperanças
levam no rumo cansaços
olhos atentos na praça
sempre na mente velho rio
cheiro a laranjeira grassa
perfuma m' coração vazio
lá em baixo a velha horta
onde as flores, são reais
é meio dia o sol à porta...
ondulam ao vento juncais
já se consomem os dedos
e estas mãos ao desafio
trazem rugas e segredos
afeitas ao tempo e ao frio
errante anda o meu olhar
morrem-me as mãos nuas
o sorriso q' já não sei dar,
morro eu de saudades tuas
restam memórias saudosas
trago agora o rosto enxuto
nas roseiras já não há rosas
nem os pássaros eu já escuto
é assim este amor sem limite
é chama q' brota e queima
é taça de vinho que permite
matar a saudade que teima
10/95
10/95
natalia nuno
rosaofogo
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
conversa a dois...dueto...rio/salgueiro/995
dueto...rio/salgueiro
rio:
pergunta o rio ao salgueiro:
diz-me o que foi feito dela
sempre a avistaste primeiro
quem sabe... estará à janela
salgueiro:
cada pergunta que fizeres
- tu espelho de mil faces!
vê-la-às quando quiseres
sempre que por aqui passes
um dia vais como quem
leva o regresso já perdido
mas no coração d' alguém
jamais estarás esquecido
rio:
salgueiro olha para o céu
manda recado p´lo vento
diz-lhe deste amor tão meu
q' levo ao mar como lamento
onde estará hoje em dia
o pé não pôs mais na água
nem ouve minha melodia
por isso ao mar levo mágoa
salgueiro:
pergunta então ao moinho
ao açude que por ela chora
chora por ela tão baixinho
que um nó me dá nesta hora.
minha folhagem castigada
lembranças guardo no seio
e na solidão da madrugada
sonho que ela por aqui veio
rio:
ai salgueiro que eternidade
hoje levo minha água baça
levo esta maldita saudade
que tenho dela e não passa
não trouxe a roupa de côr
nem a branca pôs a corar
escreve mil poemas d'amor
não tem data para voltar...
salgueiro:
tempo que ainda me cabe
tão decisivo e derradeiro
dir-lhe-ei que a roupa lave
ao avistá-la lá no carreiro
sabes demasiado bem
esta saudade é um inferno
tu, eu, ela e mais ninguém
entre nós um amor eterno.
natalia nuno
rosafogo
Setembro/1995