trago algumas cicatrizes
dureza q' a vida me deu
trago também dias felizes
quando ela me estremeceu
soam ventos, tempestades
que a vida é também dura
mas hoje trago saudades
dos tempos de m' ventura.
palpita a vida em meu ser
nada há que não defronte
do sol- pôr ao amanhecer
mil sonhos no m' horizonte
já uma lágrima me cai
dos olhos... flor silvestre!
e eu sei lá, até onde vai!?
o viver que inda me reste
tenho medo Senhor, medo,
negro vulto se me aflora
já a vida não é segredo
mas a morte acerta a hora
e meu corpo não entende
e tem por ela tanto pavor
que só esquecê-la pretende
pedindo-te ajuda Senhor
natalia nuno
rosafogo
quadras escritas em 1986
folhas caídas é outono
e é outono no m' destino
caem folhas ao abandono
meu destino não domino
ouço uma voz q' se eleva
como o cantar da cotovia
mas o meu dia é de treva
e a morte já me espia...
a vida então se distancia
sonho faz de mim escrava
primavera q'então floria?
o tempo em mim apagava
deixo um suspiro quebrado
como grito de dor profundo
o passado é já passado...
na mente é inda meu mundo.
faço do m'olhar um navio
q'destes meus dias m'afaste
trago a vida por um fio...
tempo, dela me afastaste!
nesta madrugada estranha
chora o vento e choro eu
se raio de sol não me banha
surda a vida me esqueceu!
a vida é rio que se desvia
sigo-a agora com cautela
pobre, morta quase se esfria
a alma... ao encontro dela.
natalia nuno
rosafogo