quarta-feira, 25 de maio de 2016
sem amarras...quadras soltas
ao sabor do vento norte
deixo-me ir neste cansaço
à espera de melhor sorte
vou borboleta e esvoaço
sou como flor sem espinhos
margarida ou malmequer
no alpendre trago ninhos
e beijos de quem me quer
esta fome de primavera
q' dos olhos agora me cai
é a ânsia de quem espera
amor que vem e logo vai
amores tive, e me perdi
amor minha dor não cura
só a uma raiz me prendi
com este nó de ternura
sentei-me num verso triste
onde a saudade chegou
a lembrar que nada existe
tudo para trás ficou...
natalia nuno
rosafogo
aldeia 19/01/2004
domingo, 8 de maio de 2016
estrela do meu olhar
o meu sonho deu à terra
colho lá papoilas e pão
o nascer d' águas encerra
meu sonho na perfeição...
corre o rio para o mar
corre sem freio nem travão
em ziguezagues vai a cantar
passa a dourar-me a emoção
fraqueja o sol à tardinha
fica a sombra mais à frente
com rapidez surge a noitinha
e a estrela ao meu olhar rente
de tanta que é a proximidade
fico-me por aqui nos passos
traz-me andorinha a saudade
feita de ternura e abraços
passo a praça, desço ao poço
e não olho mais para trás
na praça ficou o moço
a dourar-me o coração de paz.
parei no coração da ponte
vi a roupa nos estendais
ía o sol, longe, no horizonte
colhi papoilas nos trigais
subi agora à Banda d'Além
olhei para todas as casas
última luz do dia, ninguém!
só os pássaros bateram asas
minha paisagem, meu fulgor
já tudo são agora escombros...
não m' apercebi d'algum rumor
a sós a mãe de xaile nos ombros
era sonho, pássaros calados
era o desdobrar do vento norte
a trazer-me mil recados
partiram confrontando a morte
confrontei então meu coração
q' ainda assim ficou contente
e com eterna comoção...
sonhei, voltei ver a minha gente.
natalia nuno
rosafogo
quarta-feira, 4 de maio de 2016
trovas soltas...já tive asas e voei
fiquei-me ali a uma esquina
a somar umas vagas horas
olhei-me era ainda menina
recordei brincos d'amoras
a manhã era de poesia
e eu brinquei até à tarde
fui menina neste dia
logo me veio a saudade
escrevi meu nome no chão
com uma pedrinha de giz
depois desenhei um coração
o que, à terra tanto quis...
mais que sombra não era
mas tinha asas e voei...
tinha os meus à minha espera
mas era sonho e chorei
meu nome já não é papoila
desfolhou-se por entre trigo
nem menina e nem moçoila
sou mulher de tempo antigo
mas me lembro de ter sido
meus olhos se lembram bem
a menina dum tempo ído
de entre o rio e a Banda d'Além.
e sempre que o sol sorrir
meu coração reaquecer
à minha memória há-de vir
o som do moinho a moer
encho as mãos de lirismo
elas que cantam e choram
há dias em que tanto cismo
que saudades não demoram
fico como uma ave lenta
sem vontade de voar...
mas o coração acalenta
que um dia hei-de voltar
faço bravos meus versos
como poeta amo a terra
trago-os aqui, ali, dispersos
já p'lo mundo andam na berra
natalia nuno
rosafogo