quarta-feira, 29 de outubro de 2014

isto não é poesia...soltas



há dias feitos d' alegria
outros penso que morri
em outros... me parecia
não estar aqui... nem ali!

não há reza que m'valha
trago a alma tão vazia...
dormi em colchão de palha
cobertor d' papa m'cobria

era tempo de felicidade
lágrimas limpo ao lenço
lenço a acenar de saudade
dias em que ainda penso

meu peito fica maior
esqueço até a solidão
lembro a infância c'amor
tudo dorme, eu é que não!

"""""" roupa estendida no arame
branca se pôs a corar...
tomara m' amor me ame
e logo me leve ao altar...

"""""" às vezes namoro ao muro
outras vezes à janela
juras tu, também eu juro
a mais nenhum dar trela

"""""" se fosse pássaro ou rio
não parava noite e dia
dentro de mim o vazio?!
pássaro que não poisaria


"""""" façam de conta que morri
que a morte me foi certeira
pois com a vida rompi...
q' a morte me leve inteira!

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 28 de outubro de 2014

minha alma folha nua...trovas


ando da vida fatigada
deixo-me andar à mercê
não que me dê pancada!
m' coração nela não crê

trago no rosto estampado
a máscara da desilusão...
no coração um descampado
- que posso esperar então?

sou como flor que jaz...
na alma o frio já ressoa
volto sempre lá atrás...
mas o passado esboroa

claro, o tempo não perdoa
ele que vence, é o melhor
anda por aí e apregoa...
não ter dó da minha dor.

ando eu tão pensativa
minha alma ri... e chora!
sou na seara a espiga viva
um pouco d'sol implora...

oiço coisas não sei de onde
n' me agradam nem um pouco
me digam! Onde se esconde
o amor neste mundo louco?

digam ou então o provem
porque em mim faz guarida!
que sentimentos vos movem?
que o mundo está sem saída.

natalia nuno
rosafogo
10/2009


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

chorem versos...chorem rimas



chorem meus versos e rimas
chorem que vos abro o peito
d'minhas lágrimas sois primas
dormis amantes no meu leito

chorem versos, q' eu aguento
chorem, que nada vos impeça
vertam todo o vosso lamento
que na minha alma tropeça

chorem q'o tempo apressou,
tempo enfrento mas odeio...
frágeis, o fogo vos queimou
deito-vos as mãos sem receio

chorem meus versos por mim
que a dor não cura jamais...
chorai mostrando que assim
liberto estes meus ais...

chorem rimas, chorem firme
chorem com vontade e razão
que o tempo vem a seguir-me
e assim doendo, é solidão...

chorem versos q' me defronto
e vós rimas com mais furor
que o meu coração está pronto
...de meu rogo fazei-me o favor!

se nada já me é igual
já nem o sol é tão perto
chorem palavras que é fatal
já nada comigo dar certo.

natalia nuno
rosafogo
quadras soltas, 10/2008
a imagem a rua onde brinquei, foto do amigo Helder.




domingo, 26 de outubro de 2014

meu chão despido...trovas soltas



já a vida se ensombrou
levou m' ânimo embora
o frio na alma ressoou
ficou mais penosa agora

todo o amor que lhe pus
desde a mais tenra idade
nos meus olhos inda é luz
no coração é saudade...

e só agora eu entendo
a vida é preciosidade!
m' rosto vai escondendo
como era na mocidade

o tempo não me garante
e eu dele já nada espero
como será doravante?
só saudade é tempero

minha dor sempre dói
é dor louca em abastança
mas a esperança não se foi
e com ela a vida avança...

e este pouco que eu sou
hei-de sê-lo até morrer
quem tanta rima harmonizou
centelhas se hão-de acender

assim o tempo vai fugindo
tão curto foi para mim!
este verso dou por findo
vou cantando a vida assim.

natalia nuno
rosafogo
09/2011





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

instantes d'alma...trovas soltas



sigo até ao fim da margem
deste rio feito de nostalgia
num sonho curto à imagem
da minha...perdida um dia.

no rosto um amargo traço
sem a visão da  primavera
morto, o inverno a um passo
rosto onde o tempo lidera

o olhar de névoa baça...
mocho adivinha o lamento
inspiração, o vento q'passa
riso asfixiando, sem tento.

o peito se abre de negro...
palavras ditas e que escrevo
são a chave do meu segredo
tudo o que à Poesia devo...

fim da tarde, manhã cedo
assim vou enganando a idade
sigo a margem sem medo
no peito... levo a saudade!

natalia nuno
rosafogo
11/2008



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

sopros...trovas soltas



correm meus dedos trazendo
uma vontade enlouquecida
correm as saudades batendo
com saudades da própria vida

no rio reflexo dos salgueiros
cabelos agitados ao vento
das hortas me vem os cheiros
do fundo da alma o lamento

pássaros de peito inchado
e brancas flores abrindo
ao longe o som do arado
já as estrelas vão caindo

faço coro com a ventania
com as rãs e sua voz rouca
prende-me o choro da cotovia
e das cigarras a cantoria louca

não sei se deixe morrer...
o que hoje me atormenta
meus versos hão-de querer
livrar-me do q' m'apoquenta

natália nuno
rosafogo
11/2008




hoje espero a lua...soltas



minha face é geografia
uma aprendida lição
a vida a mão me estendia
e à vida estendi a mão...

palavra é como fruto
quer-se bem amadurecida
é com ela que eu luto
trago-a da maldade despida

ser menina... se pudesse
uma vez, inda outra vez
meu coração envelhece
fecha-se na sua mudez

profundo é meu olhar
que perscruta os sinais
e de tudo o que restar
as lágrimas serão fatais

trago o tempo no rosto
coração cheio de esperança
anda a vida a contragosto
e eu levada nesta dança

meu dia fica cinzento
aguardo uma oportunidade
se a vida não traz alento
deixo-me a viver de saudade

se invento ou me invento
ou pinto de escuro a vida
há um dia que sempre tento
pintá-la... de côr colorida.

hoje espero a lua nova
para fazer versos outra vez
cego a noite c' minha trova
e depois amor... talvez!

talvez que a noite seja nossa
como nunca antes tenha sido
talvez que a vida ainda possa
voltar amor... a fazer sentido

natalia nuno
rosafogo









sábado, 18 de outubro de 2014

tanta coisa, pouca coisa...trovas



ai de mim, tão pouco sei
olhos abertos ou fechados
tão pouco, conta me dei
meus versos aí  espalhados

ai de mim, falta de senso
tanta coisa, coisa pouca...
queixas d' alma, ai imenso
da viagem q'me põe louca

assim me vou consumindo
não culpo a vida e ninguém
só este desejo advindo
faço versos... aqui e além

sem engenho assim dirão,
são ramos verdes sem flor
com loucura escritos à mão
hora a hora engenho e amor.

ai de mim com ou sem rima
vou escrevendo com tal força
não será uma obra prima...
mas m' querer não há q'torça

q' importa quem não admira
quem nada viu por aqui...
quem no meu peito desfira,
q' ri por último melhor ri

natália nuno
rosafogo

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

cai a noite...trovas




a noite cai tão depressa
levo as sombras ao lado
noite de luar como essa
q'reflecte o lugar amado

a noite se desfaz...solidão!
estagnados... olhos abertos
p'la madrugada inquietação
hora de notícias d' apertos

os sobressaltos da vida
q' à noite trazem  insónia...
no dia de amanhã perdida
lembro q'vida é transitória

a noite caíu num instante
começa a chuva a bater
num choro louco, vibrante
à luz deste verso a morrer

prendo palavras q'se agitam
caídas folhas de outono
logo elas na noite gritam
até me tirarem  o sono...

faz-se silêncio, eternidade
me traz a ilusão do nada
escrevo verso e a saudade
é uma lágrima inesperada...

natalia nuno
rosafogo
foto de Helder Duque, obrigada amigo pela cedência.

                                                                               
 é noite na minha aldeia
perpetua os nossos rastos
uma labareda sempre ateia
os nossos sonhos já gastos

   





quinta-feira, 16 de outubro de 2014

desalento...



a vida...caíu no laço
ou deu o consentimento
hora a hora passo a passo
é levada como o vento...

tem parte de amargura
também parte de festejo
é como da noite negrura
e como o dia... é lampejo!

folhas do outono cegas
trazem silêncio e  tédio
se à vida tanto te apegas
deixá-la é teu remédio!

chega com o teu sorriso
esquece a vida, hipocrisia
faz no silêncio teu juízo
que amanhã é outro dia...

da infância trago mitos
e o verde dos arvoredos
velhos sonhos, benditos
nostalgias e segredos...

melhores memórias então
vem à mente com ternura
como um sonho de vulcão
emoção que inda perdura

aromas não estão esquecidos
nem o das humildes flores
surpresa e harmonia vividos
em meus dias e meus amores

ramagens de água no rio
na inquietação do outono
logo os ventos, surge o vazio
e a memória ao abandono...

natalia nuno
rosafogo
10/2008