quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Chamar-lhes ía «saudades»




anda ave de mau agoiro
da noite escura ela veio
agora que o sol é oiro
alegra m'alma em cheio
 
o sofrer também é vida
mas é demais ter-se cruz
se deixamos cair vencida
ao desânimo nos conduz
 
uma cruz trago ao peito
uma cruz de prata fina
a pedir um amor-perfeito
do tempo que era menina
 
é meu coração que sente
se não tem n' ar, nem luz
pede amor sofregamente
assim carrego esta cruz
 
de tempo não há fartura
é escasso e chega ao fim
lembrança sempre perdura
hoje é o que resta em mim
 
natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

canto vida e morte...




que hei-de supor da vida
nem sei se hei-de cantá-la
já a julgo tão perdida...
mas não canso d'lembrá-la

venho os olhos enxugando
teimosa lágrima caindo
tempos que vou lembrando
e tanta saudade sentindo.

hei-de falar-vos do povo
que alegre seguia em frente
dia a dia nada de novo,
mas era feliz nossa gente

moía o trigo no moinho
e a água corria no açude...
nada o impedia no caminho
gente boa ...ainda que rude

não  digo mais nada não!
deixo-me sonhar deste modo
fecho o livro aqui à  mão
quero viver o sonho todo...

as tábuas que hão-de pregar
no caixão quando eu morrer
ai, não vale a pena apressar
deixem  o pinheiro crescer

e quando acontecer:

olhai meus olhos serenos
e minhas mãos quase frias
não quero lágrimas, acenos
leiam-me  antes poesias...

natalia nuno
rosafogo




sábado, 25 de janeiro de 2014

fico a cismar...soltas




À noite rezo inda agora
é inda hábito de pequena
pelos que foram embora
e me deixaram com pena

Geme o vento por aí...
treme a folha embalada
quem me dera ter-te aqui
pra me sentir por ti amada

Lembro a paz que havia
nessa minha idade lá...
à noite quando adormecia
como essa paz já não há

Tanto tenho na lembrança
lembranças não têm fim
apontava o dia eu criança
hoje não sei ao que vim!

Já a lamparina se apagou
com o vento p´la chaminé
e eu ainda menina lá estou
dali não arranco  pé...

Dor da saudade eu suporto
fico a cismar nesta hora
morrer já não me importo
já a saudade em mim mora.

natalia nuno
rosafogo




sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

amor...amor...


A prova eu quero tirar
hoje falo só de amor!
quem é que pode parar
o meu vôo de condor?

Já o amor não me vê...
naufragou em mar gelado
só o meu coração crê,
não o ver amortalhado
 
Quem dera não esquecer
esse amor que me deste
coração teima em bater
mas agora já o perdeste

O meu mundo desponta
ao olhar dos olhos teus
eram castanhos dei conta!
ficaram de verde os meus

Afecto assim jamais senti
grato ficou meu coração
que agora vazio... sem ti
sofre a saudade e solidão

Segui caminho por atalho
c'olhos fitei o firmamento
o coração sem agasalho
mas nele o amor acalento

natalia nuno
rosafogo

aldeia, 03/2006





 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

maldito governo



Ressoa na voz da gente
Povo é quem mais ordena
mas é tão triste o presente
e o futuro já me condena

governo tão desumano
e de mentiras tamanhas
quem veste de ruim pano
vê-se depois às aranhas

de mortos, com esse mal
só se não tivermos juízo!
mate-se já o animal...
que ele nunca foi preciso

pelo que passa a Nação
uma autentica desgraça
casa onde não há pão
é a fome que nela grassa

Ou tão só desgovernado
trazem o bolso da gente
Até quando este fado?
Não há povo que aguente.

diz dar direitos garantidos
assim vão tirando o resto
ora se já estamos falidos
eu cá não dou n'empresto

dizes adeus às poupanças
vais dizendo adeus a tudo
temos que lhe pôr paranças
que maldito governo mudo!

para um pensar positivo
precisa haver pão na mesa
neste mundo onde vivo
de nada, há mais certeza

tanto mal correndo à solta
rasteja a confiança...
se a vida não dá uma volta
fica de rastos a esperança

Sou fruto desta Nação
Já sou um fruto maduro
sofro com a desilusão
ao ver jovens sem futuro

Quadras encadeadas, esta é a minha participação no Horizontes da Poesia.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Trovas soltas...coisas vivas

 




cantam as fontes chorosas
cantam seus ais e tristezas
nas roseiras morrem rosas
e no meu peito as certezas

andam malmequeres de luto
sem nem saber bem o porquê
anda o amor sem dar fruto...
triste amar que ninguém  vê.
 
Quem pode dizer ao mar
não rebente a ondulação?
Sempre ele há-de rebentar
assim vai... meu coração!
 
É esta sempre a cantiga
nenhuma outra faz sentido
ora se eu sou a tua amiga
nem tudo estará perdido...

ando à procura de sol...
mal surgiu a madrugada
quero sentir-me girassol
de cabeça bem levantada

no desespero da esperança
trago sonhos desesperados
tantos trago na lembrança
são eles os meus pecados
 
natalia nuno
rosafogo
 
 
 
 


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

hora marcada



relógio já marca a hora
momentos de despedida
parte a vida sem demora
chega a hora da partida

há alguém a dizer adeus
com olhar lacrimejante
até quando só sabe Deus
já o sol baixa lá adiante...

fica a vida indiferente
que Deus a abençoe
a tristeza é permanente
já que a alegria se foi

assim se vai cumprindo
o destino que Deus dá
saudade de quem partindo
deixa saudades por cá...

bem guardado na memória
um mar de dias de outrora
a vida uma longa história
o relógio a marcar a hora..

natalia nuno
rosafogo.






segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

trovas soltas de 2002



coração q'só quer amar,
e beijo de amor receber

quando a noite chegar
infinito será o prazer.

amanhã é que será!
se o destino entender
à minha porta baterá
para o amor me trazer.
 
calo o amor no peito
como cântico de sedução
trago no olhar o jeito
meu chão é teu coração
 
partem palavras aladas
bem fundo do coração
à poesia de mãos dadas
para viver sem solidão
 
teu coração porta aberta
pronto a dar e a receber...
a beleza em ti descoberta
meus olhos gostam de ver

vi de novo o sol poente
vou agradecer a Deus
que meu coração é crente
quando olho os olhos teus

natalia nuno
rosafogo