sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

meu fado...trovas



não sei quando nem onde
este amor mexeu comigo
desde então ele se esconde
fez de meu coração abrigo

escondeu-se e ali ficou...
olhos fechados como cego
diz q' de mim se enamorou
nunca mais me deu sossego

falo com ele ao deitar
em sonhos ele é perfeito
por ele vivo a penar
embalo-o dentro do peito

às ocultas  o trazia...
tão em m' peito escondido
que ele partisse eu temia
pra sempre andasse sumido

juntinhos peito com peito
ai amor boca... com boca
amor assim tão perfeito?!
eu juro que me põe louca!

tu que dormes a meu lado
e és toda a minha ventura
chorar por ti é meu fado
feito  fado de amargura

natalia nuno
rosafogo





terça-feira, 25 de novembro de 2014

bem me quer...mal me quer



dou-te razão mas porém
a razão está do meu lado
a culpa não é de ninguém
não mereces ser castigado

aos olhos não atires areias
sem asas o amor não voa
quem sabe em mãos alheias
o meu, seja dor que te doa

se eu sou assim, assim seja
não te quero fazer dano
nem ciúme... ou inveja
nem trazer-te no engano

ora assim está dito e feito
não duvides da verdade
dei amor a quem de direito
de ti, me resta a saudade...

 natalia nuno
rosafogo

sábado, 22 de novembro de 2014

trovas soltas...louca d'amor.




sopra uma nuvem de fumo
estremeço na escuridão...
à solidão não me acostumo
nem eu, nem meu coração

vou levando muito a sério
quando a solidão me bate
no pensamento o mistério
no coração um combate...

trago o coração a arder
queimando que nem brasa
ai...toda a dor nos faz doer
e  logo o coração...arrasa!

sem amor p'lo caminho

quem é que canta e vive?
pobre coração! pobrezinho
com a saudade convive...

bola de sabão é sonho
ou sonho bola de sabão
louca d' amor me  ponho
amor ...se me dás a mão!


natalia nuno
rosafogo
12/10/2006






quinta-feira, 13 de novembro de 2014

mais uma vez...soltas



no poial da minha porta
sentada vejo minha mãe
menina...de sono morta
ao lado dela também...

quer no colo adormecer
não quer ir inda prá cama
ver a noite a escurecer
no colo de quem a ama

trago essa menina triste
que grande queria ser
ainda agora ela insiste
pra nunca eu a perder

no poial da minha porta
ali estou eu bem guardada
menina de sono...morta
a sonhar ainda acordada

fala-me a noite o segredo
sonhos desenha no olhar
sou criança,  tenho medo
fico no colo de embalar

coisas simples são vida
é nelas que me invento
pra não me sentir perdida
nem eu, nem o pensamento

lembrando posso amar-me
finjo que a vida me ama
se o tempo vier calar-me
é minha mãe q' me chama

e quando a lua aparecer
no velho ofício de alumiar
volto a ser menina se puder!
no colo da mãe m' embalar

natália nuno
rosafogo
01/2011



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

isto não é poesia...soltas



há dias feitos d' alegria
outros penso que morri
em outros... me parecia
não estar aqui... nem ali!

não há reza que m'valha
trago a alma tão vazia...
dormi em colchão de palha
cobertor d' papa m'cobria

era tempo de felicidade
lágrimas limpo ao lenço
lenço a acenar de saudade
dias em que ainda penso

meu peito fica maior
esqueço até a solidão
lembro a infância c'amor
tudo dorme, eu é que não!

"""""" roupa estendida no arame
branca se pôs a corar...
tomara m' amor me ame
e logo me leve ao altar...

"""""" às vezes namoro ao muro
outras vezes à janela
juras tu, também eu juro
a mais nenhum dar trela

"""""" se fosse pássaro ou rio
não parava noite e dia
dentro de mim o vazio?!
pássaro que não poisaria


"""""" façam de conta que morri
que a morte me foi certeira
pois com a vida rompi...
q' a morte me leve inteira!

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 28 de outubro de 2014

minha alma folha nua...trovas


ando da vida fatigada
deixo-me andar à mercê
não que me dê pancada!
m' coração nela não crê

trago no rosto estampado
a máscara da desilusão...
no coração um descampado
- que posso esperar então?

sou como flor que jaz...
na alma o frio já ressoa
volto sempre lá atrás...
mas o passado esboroa

claro, o tempo não perdoa
ele que vence, é o melhor
anda por aí e apregoa...
não ter dó da minha dor.

ando eu tão pensativa
minha alma ri... e chora!
sou na seara a espiga viva
um pouco d'sol implora...

oiço coisas não sei de onde
n' me agradam nem um pouco
me digam! Onde se esconde
o amor neste mundo louco?

digam ou então o provem
porque em mim faz guarida!
que sentimentos vos movem?
que o mundo está sem saída.

natalia nuno
rosafogo
10/2009


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

chorem versos...chorem rimas



chorem meus versos e rimas
chorem que vos abro o peito
d'minhas lágrimas sois primas
dormis amantes no meu leito

chorem versos, q' eu aguento
chorem, que nada vos impeça
vertam todo o vosso lamento
que na minha alma tropeça

chorem q'o tempo apressou,
tempo enfrento mas odeio...
frágeis, o fogo vos queimou
deito-vos as mãos sem receio

chorem meus versos por mim
que a dor não cura jamais...
chorai mostrando que assim
liberto estes meus ais...

chorem rimas, chorem firme
chorem com vontade e razão
que o tempo vem a seguir-me
e assim doendo, é solidão...

chorem versos q' me defronto
e vós rimas com mais furor
que o meu coração está pronto
...de meu rogo fazei-me o favor!

se nada já me é igual
já nem o sol é tão perto
chorem palavras que é fatal
já nada comigo dar certo.

natalia nuno
rosafogo
quadras soltas, 10/2008
a imagem a rua onde brinquei, foto do amigo Helder.




domingo, 26 de outubro de 2014

meu chão despido...trovas soltas



já a vida se ensombrou
levou m' ânimo embora
o frio na alma ressoou
ficou mais penosa agora

todo o amor que lhe pus
desde a mais tenra idade
nos meus olhos inda é luz
no coração é saudade...

e só agora eu entendo
a vida é preciosidade!
m' rosto vai escondendo
como era na mocidade

o tempo não me garante
e eu dele já nada espero
como será doravante?
só saudade é tempero

minha dor sempre dói
é dor louca em abastança
mas a esperança não se foi
e com ela a vida avança...

e este pouco que eu sou
hei-de sê-lo até morrer
quem tanta rima harmonizou
centelhas se hão-de acender

assim o tempo vai fugindo
tão curto foi para mim!
este verso dou por findo
vou cantando a vida assim.

natalia nuno
rosafogo
09/2011





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

instantes d'alma...trovas soltas



sigo até ao fim da margem
deste rio feito de nostalgia
num sonho curto à imagem
da minha...perdida um dia.

no rosto um amargo traço
sem a visão da  primavera
morto, o inverno a um passo
rosto onde o tempo lidera

o olhar de névoa baça...
mocho adivinha o lamento
inspiração, o vento q'passa
riso asfixiando, sem tento.

o peito se abre de negro...
palavras ditas e que escrevo
são a chave do meu segredo
tudo o que à Poesia devo...

fim da tarde, manhã cedo
assim vou enganando a idade
sigo a margem sem medo
no peito... levo a saudade!

natalia nuno
rosafogo
11/2008



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

sopros...trovas soltas



correm meus dedos trazendo
uma vontade enlouquecida
correm as saudades batendo
com saudades da própria vida

no rio reflexo dos salgueiros
cabelos agitados ao vento
das hortas me vem os cheiros
do fundo da alma o lamento

pássaros de peito inchado
e brancas flores abrindo
ao longe o som do arado
já as estrelas vão caindo

faço coro com a ventania
com as rãs e sua voz rouca
prende-me o choro da cotovia
e das cigarras a cantoria louca

não sei se deixe morrer...
o que hoje me atormenta
meus versos hão-de querer
livrar-me do q' m'apoquenta

natália nuno
rosafogo
11/2008




hoje espero a lua...soltas



minha face é geografia
uma aprendida lição
a vida a mão me estendia
e à vida estendi a mão...

palavra é como fruto
quer-se bem amadurecida
é com ela que eu luto
trago-a da maldade despida

ser menina... se pudesse
uma vez, inda outra vez
meu coração envelhece
fecha-se na sua mudez

profundo é meu olhar
que perscruta os sinais
e de tudo o que restar
as lágrimas serão fatais

trago o tempo no rosto
coração cheio de esperança
anda a vida a contragosto
e eu levada nesta dança

meu dia fica cinzento
aguardo uma oportunidade
se a vida não traz alento
deixo-me a viver de saudade

se invento ou me invento
ou pinto de escuro a vida
há um dia que sempre tento
pintá-la... de côr colorida.

hoje espero a lua nova
para fazer versos outra vez
cego a noite c' minha trova
e depois amor... talvez!

talvez que a noite seja nossa
como nunca antes tenha sido
talvez que a vida ainda possa
voltar amor... a fazer sentido

natalia nuno
rosafogo









sábado, 18 de outubro de 2014

tanta coisa, pouca coisa...trovas



ai de mim, tão pouco sei
olhos abertos ou fechados
tão pouco, conta me dei
meus versos aí  espalhados

ai de mim, falta de senso
tanta coisa, coisa pouca...
queixas d' alma, ai imenso
da viagem q'me põe louca

assim me vou consumindo
não culpo a vida e ninguém
só este desejo advindo
faço versos... aqui e além

sem engenho assim dirão,
são ramos verdes sem flor
com loucura escritos à mão
hora a hora engenho e amor.

ai de mim com ou sem rima
vou escrevendo com tal força
não será uma obra prima...
mas m' querer não há q'torça

q' importa quem não admira
quem nada viu por aqui...
quem no meu peito desfira,
q' ri por último melhor ri

natália nuno
rosafogo

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

cai a noite...trovas




a noite cai tão depressa
levo as sombras ao lado
noite de luar como essa
q'reflecte o lugar amado

a noite se desfaz...solidão!
estagnados... olhos abertos
p'la madrugada inquietação
hora de notícias d' apertos

os sobressaltos da vida
q' à noite trazem  insónia...
no dia de amanhã perdida
lembro q'vida é transitória

a noite caíu num instante
começa a chuva a bater
num choro louco, vibrante
à luz deste verso a morrer

prendo palavras q'se agitam
caídas folhas de outono
logo elas na noite gritam
até me tirarem  o sono...

faz-se silêncio, eternidade
me traz a ilusão do nada
escrevo verso e a saudade
é uma lágrima inesperada...

natalia nuno
rosafogo
foto de Helder Duque, obrigada amigo pela cedência.

                                                                               
 é noite na minha aldeia
perpetua os nossos rastos
uma labareda sempre ateia
os nossos sonhos já gastos

   





quinta-feira, 16 de outubro de 2014

desalento...



a vida...caíu no laço
ou deu o consentimento
hora a hora passo a passo
é levada como o vento...

tem parte de amargura
também parte de festejo
é como da noite negrura
e como o dia... é lampejo!

folhas do outono cegas
trazem silêncio e  tédio
se à vida tanto te apegas
deixá-la é teu remédio!

chega com o teu sorriso
esquece a vida, hipocrisia
faz no silêncio teu juízo
que amanhã é outro dia...

da infância trago mitos
e o verde dos arvoredos
velhos sonhos, benditos
nostalgias e segredos...

melhores memórias então
vem à mente com ternura
como um sonho de vulcão
emoção que inda perdura

aromas não estão esquecidos
nem o das humildes flores
surpresa e harmonia vividos
em meus dias e meus amores

ramagens de água no rio
na inquietação do outono
logo os ventos, surge o vazio
e a memória ao abandono...

natalia nuno
rosafogo
10/2008


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

chora a noite...trovas



chora noite, noite chora
sobre a vila e a cidade
porque chora tanto agora
e me causa a mim saudade?

a noite triste... denuncia
q'o tempo está de mudança
q' ficou mais velho um dia
angústia de não ser criança

parece noite de assombração
s' estrelas, nem meias estrelas
noites sem sono... cansaço dão
q'ninguém tente entende-las...

noite negra,  tinto cinzento
é agora negro de escuridão
mistério, luto, tormento
s'norte, nada mais q' solidão

não se vê palmo, só pranto
a tempestade quase passou
com velhas rezas ao santo
da noite chorosa nos livrou

noite onde morro mil vezes
como ela choro, me desfaço
choro da vida... os reveses
e outras mil vezes renasço

natalia nuno
rosafogo
Hoje  22/09/21014 a chuva alagou Lisboa

antigas trovas





chora a noite...trovas



chora a noite, noite chora
sobre a vila e a cidade
porque chora tanto agora
e me causa a mim saudade?

a noite triste... denuncia
q'o tempo está de mudança
q' ficou mais velho um dia
angústia de não ser criança

parece noite de assombração
s' estrelas, nem meias estrelas
noites sem sono... cansaço dão
q'ninguém tente entende-las...

noite negra,  tinto cinzento
é agora negro de escuridão
mistério, luto, tormento
é morte, nada mais q' solidão

não se vê palmo, só pranto
a tempestade quase passou...
com velhas rezas ao santo
da noite chorosa nos livrou

noite onde morro mil vezes
como ela choro, me desfaço
choro da vida... os reveses
e outras mil vezes renasço

natalia nuno
rosafogo
Hoje  22/09/2014 a chuva alagou Lisboa





domingo, 21 de setembro de 2014

vês amor?!...trovas


vês amor como te quero
tanto?... tanto ...tanto!
que o coração desespera
mas bate ufano de encanto.

sai a mente do lugar
pra que o coração não chore
vem o sorriso adornar
pra que o sonho não demore

que nenhuma pena sinta
na verdade é o que quero
meu coração nunca minta
vês amor como te quero!

vou ficar distante então
verdade! que hei-de fazer?
se hoje oiço o coração
é por muito te querer...

vês amor como te quero
prende-me o tempo é corrente
ando insegura ... desespero,
por te amar sou penitente

nem sei o que mais quero
nem sei onde me abrigar
meu pensar não tolero
se o coração te quer amar

vês amor...final feliz,
que não provoque dano?
o pensamento me diz
q'o coração segue ao engano

natalia nuno
rosafogo



sexta-feira, 19 de setembro de 2014

porque Deus quer...trovas




Deus trouxe-me até aqui
e tudo me dá hora a hora
logo Dele não me esqueci
anda em mim até agora...

em tudo Ele me conforta
quando o meu dia se faz
escuro, ou a vida torta...
me auxilia dando-me paz

assim m' pranto pouco dura
a esperança... fica presente!
parto da tão noite escura...
só porque Ele mo consente

está no meu peito presente
Ele que a minha vida vê
e eu O sinto claramente
meu coração nele crê

natalia nuno
rosafogo

desabafos...trovas



foi tempo, foi tempo faz
tempo de fazer inveja
agora o tempo só traz
aquilo que não se deseja

tempo que só desfeia
que é tão feroz para mim
a idade d'ouro alcancei-a
mas já fui flor de jardim

passa o tempo nada resta
quer o tempo que disponha
se ele nada me empresta
torna-me a vida enfadonha

em tempo, tempo algum
pedi ao tempo piedade
dele n'quero favor nenhum
me deixe ao menos saudade

pois se amor ainda tenho
e do tempo o resguardo
digo ao tempo q'desdenho
mas do tempo medo guardo

este tempo que é tão curto
se esconde e m'apoquenta
m' incomoda, a ele me furto
tempo assim quem aguenta?

neste meu canto m' lamento
tempo me deixa a morrer
sem piedade...deixa-se atento!
não me deixa dele esquecer

natalia nuno
rosafogo




quinta-feira, 18 de setembro de 2014

amuleto...trovas



ando cinzenta de fadiga
s' vontade de acrescentar
à minha poesia antiga
forma de a abrilhantar

comigo nunca se sabe
se é pra norte ou oriente
vou arribando como ave
q'conhece o tempo e o sente

trago no baú a passagem
comprei num tempo s' fim
quando ainda tinha coragem
e o fim era tão longe de mim

cheia de sede... engoli
já vai a idade avançada
as mágoas, e do que aprendi
sei pouco ou quase nada...

trago um amuleto ao peito
não interessa o significado
pra me proteger é o jeito
de fugir à tentação do pecado

o sonho trago sustentado
dia a dia hora a hora...
quem traz o sonho gorado
não foi feliz e nem é agora

à procura duma fuga...
me sinto dum modo estranho
apareceu... mais uma ruga
e uma dor sem tamanho..

natalia nuno
rosafogo
6/2207 Stª Justa




é tempo de sonhar...trovas



venho subindo os degraus
subindo venho de pés nus
uns dias bons, outros maus
acendendo lâmpadas na cruz

o que eu sinto, e a meu ver
a vida tem de ser sustentada
que serve viver e não viver...
mesmo que longa a caminhada

é tempo, é tempo, exclamo
é música que só eu ouço...
p'lo mundo fora...eu amo!
viajar sempre que posso...

o artista vive para a arte
saberão o que é poesia?
q' importa, do coração parte
seja ela arte, ou utopia

dois passarinhos no peito
provocam uma sinfonia
mantê-los é o meu jeito
seus cantos são poesia...

canto sem acompanhamento
rio, choro, respiro fundo
triste, alegre  o pensamento
pra esquecer males do mundo

para aqui fico tagarelando
que é estranho e para espanto
limpo lágrimas enquanto
rezo rosário no meu canto

natalia nuno
rosafogo

6/2007 Sta Justa






quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ao entardecer...trovas



profunda ruga na testa
parece a carne cortar
o sonho ainda empresta
a imagem real pra sonhar

pra esconder a confusão
rio ainda entusiasmada
novo é meu coração...
o da imagem recordada

olho e volto a olhar
as fotos amarelecidas
e tento ainda lembrar
mas são-me desconhecidas

a preto e branco sombrias
apoio-me nos cotovelos
a recordar outros dias...
que só nelas consigo vê-los

dão-me vontade de chorar
a vida é uma doutrina!
ponto assente, há-de acabar
nem sempre se é menina...

às reminiscências m'encosto
balouço-me com nervosismo
espero as estrelas... eu gosto
ao entardecer ... eu cismo

gosto da frescura, da aragem
ver o jardim a escurecer
ver as fotos... e a tal imagem
nos meus olhos anda a morrer

para trás e para a frente
há sempre sinais de vida
só a morte abruptamente
torna a vida desaparecida

nesta semi/obscuridade
bela como uma pintura...
rapariguinha com saudade
olha-se nas fotos com ternura.

natalia nuno
rosafogo








segunda-feira, 15 de setembro de 2014

soltas...à memória

hoje sobra-me a alegria
nestas palavras escritas
foi-se o sol na tarde fria
cai a chuva... em gotitas

por mim... vaga de tédio
sem cor, palavra ou fala
já nem sei se há remédio
ou minha fé também abala

veio de longe a saudade
instalou-se no coração
diz-me ela que a verdade
é que a vida é só ilusão!

e a memória... é ficção?
mal maior é não a ter!
pra ter a infância à mão
e de saudade...  morrer

os versos dentro de mim
centelhas... incendiadas,
candura ardente sem fim
são bandeiras desfraldadas

não vou ceder... à vida!
da morte nem vou falar
tristeza... triste, afligida,
que demore ela a chegar

mais aqui, ou mais além,
eu nem sei o que dizer!
é o frio da noite que vem
minha palavra... emudecer.

natalia nuno


domingo, 14 de setembro de 2014

quem se lembra?...



quem se lembra do rumor
que o silêncio calou...
versos gemidos... d'amor
nos lábios de quem amou?

quem se lembra d'procurar
pergunta que ninguém ousa
se a morte a vida abafar
onde é que a alma repousa?

quem se lembra dos ruídos
que nos afastam dos sonos
murmúrios e olhos caídos
causados por abandonos?

quem lembra do riso ainda
e logo do amargo rosto...
aquela dor que não finda
de tão amargo desgosto?

quem lembra sulcos d' vida
pássaros negros, tempestades
lágrimas dos olhos corridas
emoções libertas, saudades?

quem lembra rosto desfeito
da insónia que o desafia...
emudecido, amor perfeito
da noiva de algum dia?

todos se lembravam dela
mas todos a morte levou
do retrato... hoje ao vê-la
é flor que o tempo ocultou

natalia nuno
rosafogo
imagem da net










quinta-feira, 11 de setembro de 2014

volta de mansinho...



ouvem a menina do baloiço
ainda no baloiço a baloiçar?
olho para trás e ainda a oiço
como que por mim a chamar

vêem como a mim se enlaça
protege-se da sua fragilidade
não a derrube o vento q'passa
e a menina chore de saudade

vêem como baloiça tão alto
como a querer chegar ao céu?
deixa em mim o sobressalto
se lhe dói, dói o que é meu

ouvem o ranger dos ramos
que suportam seus sonhos?
inquietantes dias, tamanhos
apanha amoras e medronhos

vêem-na n' ondas do centeio
nas tardes nuas de verão?
atravessou m'ha memória veio
adormecer no meu coração

vêem como é ave que voa
livre,  de asas estendidas?
não há saudade que não doa
é ela bálsamo das feridas

natalia nuno
rosafogo
imagem da net




quarta-feira, 10 de setembro de 2014

lenço da saudade...trovas



destas minhas mãos vazias
caem pétalas uma a uma
são cansaços de meus dias
s/ esperança de coisa alguma

trago na memória antiga
pássaro que m'estende a asa
trinando a mesma cantiga
q' trinava no telhado da casa

pra q' eu saiba donde venho
não me larga o pensamento
passado é tudo o que tenho
como estes versos que invento

outro modo de voar eu não sei
a vida só a sonhar faz sentido
morrendo já... nada mais direi
já meu coração... é de vidro!

deixo-me ir antes que alguém,
sempre encontro uma saída
vou de jornada, e de ninguém
quero fazer minha despedida

aceno de longe um lenço
todo enfeitado de saudade
então percebo que pertenço
ali, onde busco minha verdade.

já q' o tempo me vai fugindo
a toda a hora... mingando...
fecho os olhos, vou fingindo
que sou eu... quem o comando

a saudade é-me tão familiar
prende-me a coisas pequenas
leva-me no tempo e ao voltar
fica em meu coração a morar

pra que esqueça minhas penas.

natalia nuo
rosafogo
2011/6









À gente maldizente...



ainda a sonhar me atrevo
palavra é minha liberdade
quem ultraja o que escrevo
ou tem inveja ou maldade

mastiga teu ressentimento
para quê dar-te respostas?
teu pensamento oco de vento
q' importa de mim não gostas?

perpectua tudo o que fazes
mas aquilo que fazes com jeito!
deixa em paz os que desfazes
ninguém na vida é perfeito...

por muito q' tentes denegrir
com a voz árida que nada vale
olha-te, depressa vais descobrir
não me importa q' de mim fale

vais cavando a própria ruína
nos teus olhos vejo vil desolação
é maldade ou é tua sina?
deixa que entre amor no coração.

rosafogo
natalia nuno






sexta-feira, 5 de setembro de 2014

trovas várias...recordações



Sou poeta pois então
 poética é m' nostalgia
faço versos ao serão
e também à luz do dia

Poesia trato por tu
risco nela a minha sina
trago-a ao mundo a nu
desde tempos de menina

Esboço nela os sonhos
com acordes de tristeza
saudade de dias risonhos
o tempo levou c' avareza

Um afecto me proteja
um abraço me console
já a boca que me beija
dá-me a lua, traz-me o sol

Vou passando de revés
pela casa onde nasci
ali me levam meus pés
mas nem murmúrio ouvi

Olho a paisagem muda
ela que foi tão cristalina
pois o tempo não me iluda
lembro-a desde pequenina

Poeta não m'envergonho
Sou  filha de cavador...
Nos versos sempre ponho
o seu nome com amor...

Na aldeia foi meu medrar
entre hortas e figueirais
de júbilo  deixo alcançar
a memória de meus pais

Transborda o rio há cheia
há quem chame de aluvião
luzes acesas é hora d'ceia
vive em mim a recordação

natalia nuno
rosafogo

Abril, aldeia 1998








a gaveta do meio...trovas



abri a gaveta do meio
fotografias descoloridas
abri com algum receio
lembranças d'outras vidas

abri a janela e depois
inalei o odor do jasmim
recordei-me de nós dois
namorando no varandim

olhei então o apeadeiro
lá ao longe na estação
tu amor vinhas ligeiro
estremecia-me o coração

na extremidade da rua
debaixo de iluminação
jurei ali... amor ser tua
na tua enlacei m' mão

o passado se afastou
como livro por colorir
cuja criança se ausentou
e hoje lembra a sorrir

dois velhos actores
a quem a vida deu arte
vives tu  inda d'amores
e eu vivo para amar-te

natalia nuno
rosafogo
abril 65










quarta-feira, 3 de setembro de 2014

quase uma desgarrada...




Na banda d'além do rio
tive um amor certo dia.
Hoje o coração vazio

triste chora e silencia.

Era da banda de cá
que eu morava e sorria
p'ra esse amor que já não há,
p'ra essa idade fugidia.

E entre bandas quem diria
que o rio manso e encantador
hora a hora, dia a dia,
me faz lembrar esse amor.

*************

Para a Natália, a poetisa da saudade do "rio de água lavada" - o nosso Almonda - e da aldeia, com suas bandas.
E aos lapenses, todos, claro!



Sou da banda de além
Pela infância fascinada
Não esqueço nada, ninguém

Desta terra tão amada

Dos amigos que criei
E que também acarinho
Dos bons me rodiei
Neles… tu Poeta vizinho


natalia nuno

terça-feira, 2 de setembro de 2014

nem doce nem vinagre...trovas



eu hoje brindo à vida
lhe levanto minha taça
Deus ma deu colorida
eu agradeço essa graça

nem doce nem vinagre
o meu dia renovado...
aguardo sempre milagre
seja d' amor perfumado

de tanto que caminhei
recordo sem ilusão...
que todo o amor que dei
foi belo e com paixão

tudo se distanciou
é agora fumo negro
mas o coração guardou
teu coração em segredo

não deixo a obscuridade
entre e sente à m' mesa
quero comigo a saudade
desse amor que foi certeza

natalia nuno
rosafogo
2011/05





sábado, 30 de agosto de 2014

lamúrias...trovas



cansados vão os passos
enquanto o dia esvoaça
levo calados os cansaços
enquanto esta vida passa

levo os lábios sedentos
e a lembrança distante
em lágrimas pensamentos
o esquecimento, constante!

as palavras não se detêm
abrem em mim uma ferida
caem em mim, mas porém
são recordação trazida...

os sonhos me assediam
com silenciosos desejos
com fragrâncias q' existiam
com o sabor dos teus beijos

levam aos olhos  ternura
com a linguagem das flores
sonhos orvalhados, frescura
dispõe-me a vida aos amores

sonhos agora são brancos
como aves surpreendidas
maus olhados, quebrantos
com lamúrias  incontidas...

natalia nuno
rosafogo









sexta-feira, 29 de agosto de 2014

sou trovadora...



Sou poetisa sou trovadora
faço trovas sem ter fim...
desculpa se sou sonhadora
quero te lembres de mim!

fiz promessas d'amor
ao pé do rio na margem
veio depois o desamor
o amor era só miragem

 minhas ilusões são antigas
os sonhos... frescos suaves
e canto algumas cantigas
q' lembram chilreio d'aves.

 há bocas que soltam ais
umas d'amor outras d'dor
algumas que beijam mais,
outras imploram por favor

já a doce tarde recua...
não quer morrer ainda
lá  ao longe vem a lua
só a tristeza não finda

se é louco o amor não vejas
pra n' colheres tempestades
se tanto o amor almejas
 hás-de chorar de saudades

vou cantando como posso
um tempo s' tempo eu sou
de todo este tempo nosso
só a saudade... dele restou.
natalia nuno
rosafogo

2004/8


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

soltas...o caminho



o horizonte sem luz
meu coração apagou
a vida já não o seduz
nem sei na vida se estou

levo dentro de mim
a ternura da tarde
verso que não tem fim
no coração a saudade

de lembranças pedaços
frágil vai a memória
lentos vão os passos
desta inefável história

história ou talvez destino
ou meu caminho indeciso
onde eu sou um peregrino
levando no rosto  sorriso

sou a que nada possui
tudo ardeu durante a vida
já não sou o que ontem fui
sou a lembrança esquecida

natalia nuno
rosafogo


domingo, 17 de agosto de 2014

trovas soltas...cheias de nada



palavras são tempestade
chuvadas e vento forte
são saudades da saudade
que persegue até à morte

lágrimas secam no rosto
a calma volta ao coração
no mais fundo o desgosto
vai mudando de posição

és o mel que me adoça
minha luz da madrugada
amar-te sempre que possa
e me queiras tua amada...

o teu olhar me rodeia
são teus beijos o fogo
és luz da minha candeia
que ao ver-te ateia logo

meu coração desespera
logo chegas sem aviso
no vazio à tua espera
partes quando mais preciso

e que dor que o peito sente
clemente vai soluçando
cada vez que estás ausente
morre um pouco te esperando

a vida é feita de nadas
de solidões e tristeza
uns dias ensolarada
outros feita de incerteza

este tempo adverso
nem me deixa esquecer
ateia a saudade no verso
temo a solidão de a ter

nasci numa segunda feira
terrível dia de inverno
aqueceram-me à lareira
vim do céu para o inferno

são simples minhas trovas
falam com  simplicidade
não são velhas e nem novas
nelas prolifera a saudade


as mãos cheias de nada
no coração a saudade
eu e os poemas dizemos
 «Obrigada»
vosso apreço é nossa vaidade


natalia nuno
rosafogo
Março 2009 aldeia






terça-feira, 12 de agosto de 2014

quero II....trovas soltas


quero sonhos, são meus
quero-os roseiras em flor
quero sorrir aos olhos teus
dizer-te amo-te, com ardor

quero fazer versos à solta
semear letras ao vento...
quero alegria à minha volta
ser-me poesia chão sedento

só preciso dum abraço
me sustente a coragem
trago na alma o cansaço
desta tão longa viagem

as noites trazem perfumes
estrelas lâmpadas d'ouro...
trazem os dias azedumes
e aberto na face o choro

correm lágrimas a fio
sufocado é o soluçar
a inspiração é arrepio
deixa o Poeta naufragar

estas páginas são tristes
nelas vincos do passado
o que nos meus olhos viste
vem do coração agitado...

depois que importa morrer
se só memórias o que ficou
se só é triste o meu viver
e tudo depressa passou?!

quis o destino... assim quis
agora os dias venturosos
ainda que pobre mas feliz
memórias, tempos ditosos

natalia nuno
rosafogo

Maio 2005



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

trovas...ao subir a montanha


ao subir a montanha
por onde o vento fugia
m'alma ficou estranha
em mim a melancolia

o silêncio me rodeava
as nuvens ali tão perto
o sol o céu dourava
m'coração q'era deserto

todas as coisas quietas
até o meu pensamento
e as vidas tão incertas
tão tingidas de cinzento

olhei extasiada a natureza
meu sonho foi mais além
sorri à vida com a certeza
de ser feliz como ninguém

na montanha bem no cimo
arco íris tanta cor e violeta
se mais do céu m'aproximo
mais Deus me faz de Poeta

natalia nuno
Noruega 2014/ Julho


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

soltas...saudosas




ando já ao amor rendida
mas o amor traz espinhos
não digo não, e atrevida
vou aceitando carinhos...

porquê em teu semblante
é sempre triste o olhar?
Se o amor a cada instante
vem o coração venturar.

meu coração sem razão
anda triste desencantado
louco a esquecer a paixão
s'razão ... amargurado!

depois de tantas partidas
tantas memórias desfeitas
tantas ilusões perdidas
no rosto rugas perfeitas...
..

natalia nuno
rosafogo
Maio 2001



sábado, 2 de agosto de 2014

final de vida...trovas




ao ouvir dobrar o sino
acalmou-se o coração
a ouvi-lo está o menino
já não o ouve o ancião

velho pobre e pensativo
as horas são de cansaço
olha o céu embebecido
já lhe custa dar um passo

cicatriz que traz no peito
ferida duma vida dura
amor nem sempre perfeito
lembra ainda com ternura

foi escravo sem grilhão
a terra seca ele cavou
vai levá-la no coração
terra que sempre amou

e lá se foram os anos
resta apenas a saudade
esqueceu os desenganos
velhice é a sua verdade

natalia nuno
rosafogo
2009