A avó cerzia as meias
rezava à noite a oração
apagava ela as candeias
logo depois do serão...
Escuro, ouviam-se as rãs
sempre surtia algum efeito
logo em todas as manhãs
era um acordar perfeito.
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dizia ela...
dizia ela...
«hoje é dia de cozer o pão
logo o forno fica quente
aproveita-se coze-se o feijão
que à noite é a ceia d'gente
hoje fala-se de fulana
há falatório na aldeia
diz-se mal de beltrana
anda de barriga cheia»
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A avó de rosário na mão
vai sacudindo a cabeça
como que a dizer que não
há nada que n' aconteça!
Apanha erva prás coelhas
olhar cravado no chão...
suas amigas estão velhas
faz parte da conversação
Velhice é como uma doença
lembro-me bem de a ouvir,
quando novo não se pensa?!
Não cansava de repetir...
Amplos não eram os passos
e uma agulha pra enfiar?
eram já tantos os cansaços
e logo a vida a definhar
Ao debulhar as ervilhas
no silêncio era costume
tinha em mente filhos e filhas,
chorava acendendo o lume.
Apanhava a roupa estendida
que a corar estendia p'lo chão
entreolhava o tempo... a vida,
malparido trazia o coração.
Viúva ainda bem nova,
fiel até em pensamento,
homenageá-la numa trova?!
É tão pouco meu talento.
natalia nuno
rosafogo
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