cantam pinhais na distância
pássaros me aguardam por lá
em sonho voltarei à infância
rever quem por cá já não está.
vou falar com a minha gente
saciar a sede com água pura
ser flor que vibra inocente
esquecer esta tristeza escura
a vida dispõe e nos talha
em primavera verão outono
a morte tarda mas não falha
logo no inverno o abandono
voa a calhandra rompe o céu
sempre menina aqui deitada
voou o tempo não sou mais eu
pobre de mim e dela coitada
ruas, roseiras ciprestes muros
as manhãs abrem-se às auroras
e os homens de aspectos duros
cheios do tempo, malditas horas
mulheres cozem o pão, oração
enchem cântaras ao amanhecer
amam marido e filhos c'devoção
sentem-se mortas antes de morrer
oiço o frio cantar da fonte
e no lagar a côr rubra do vinho
criança ainda este o horizonte
a memória leva-me ao caminho
é presente em mim enraizado
prisão de aroma e de luar
o céu que me sorria estrelado
vou amar-te até o coração gelar
nossa casa branca ainda lá está
ninguém a pode esvaziar assim
pássaros me aguardam por lá
lembranças esperam por mim
uma vez mais no meu passado
mesmo sonho, mesmo encanto
instante de sorte tocado...
ventura imensa, calado o pranto
terei sempre esta rebeldia
de desafiar o sonho e a solidão
até à luz que se apagará um dia
e eu volto a ti de alma e coração
natalia nuno
rosafogo
à minha aldeia, ao meu rincão
Fico muito grata amigo Laerte, adorei o soneto que me deixou, muito belo, obrigada pelo apreço às minhas quadras. Meu abraço.