sábado, 29 de janeiro de 2022

poesia é...sentimento






poesia é brilho eterno
é como leito d' amor
é um abraço fraterno
dado com muito calor

minhas asas no chão
clamam por liberdade
trago amor no coração
anda em mim a saudade

roseiras bravas, silvedos
ribeiras de... água clara
aqui vou deixando segredos
de quem m' coração amara

apertei-te nos meus braços
uma hora ... uns instantes
daí para cá meus passos
são vagabundos errantes

natalia nuno
quadras soltas perdidas
1998



emoções...


 tua pena... minha pena

«sei que mais dia menos dia»
essa saudade tão serena
transforma-se  em alquimia

apenas queixume do vento
desperta o dia, aurora linda
«versos versados no intento»
de sorrir à vida, ainda.

natalia nuno

recordações...

tenho a porta fechada
a porta do coração

trago a alma calada
acesa a recordação

deixo a janela bem aberta
para deixar entrar o odor
da flor q' em mim desperta
fogo aceso por ti  amor.

és fruto, sabor maduro
pele macia... de cetim
se no teu sonho perduro
volta logo para mim...

na cama onde te deitas
há um lençol de linho
palavras doces perfeitas
e tuas mãos a caminho.

natalia nuno
rosafogo
velhas quadras 1 997

vigília errante...



são memórias que o vento
baloiça sobre os loureiros
oiço vozes em sofrimento
piam pássaros agoireiros

memórias já destruídas
tantas, caídas no vazio
sonhos de asas abatidas
rostos angustiados d' frio

desvanecendo s' retorno
o silêncio como certeiro
perversa de riso morno
a vida é flor sem cheiro

tempo invisível  partiu
deixa sonhos s' horizonte
o mundo o sítio mais frio
até que a morte confronte

lágrimas de resignação
é a alegria que emudece
fica a vida resignação
logo a descrença aparece

desfilam pálidas imagens
partem deixam saudade
todos pra longas viagens...
leva-os a morte s' piedade

natalia nuno
rosafogo







nostalgias





Sussurra o vento n'ramagem

já lhe ouço os suspiros seus
onde irá com sua aragem?
que não trouxe beijos teus?

Teus olhos são minha vida
são como estrela a girar
sinto-me por eles rendida
sonho que me faz serenar

Noite de estrelas serena
não quero mais despertar
no coração nasce a pena
que o anda a despedaçar

Trago o pranto contido
na fragrância humilde d'flor
ao recordar o tempo ído
e o feitiço desse amor...

quadras soltas de 2008
natalia nuno

pobre país...







andam nuvens debruçadas

sobre o meu país cinzento
andam as bocas caladas
e muitas sem alimento


meu país azul e verde
meu país que ri e chora
 cansado de justiça tem sede
 fascismo de novo o namora


trago o anseio de cantar
e trago em mim um travão
ai... se eu pudesse falar!
tudo o que vai no coração

tanto político incompetente
tanto roubo tanta maldade
anda este povo pobre gente!
consumido com a realidade


andam nuvens debruçadas
sobre o meu país cinzento
andam as bocas caladas
e muitas sem alimento...

vai o humilde rebanho
votar em dia de eleição
ignorância sem tamanho
e vota sem saber a razão...

meu país está cinzento
sua gente foi traída
há murmúrio há lamento
está num beco sem saída

natalia nuno

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

sob a prata do luar...



 
devia eu saber de cor
que eco de fala abafada
ao coração... traz a dor!
ao olhar lágrima chorada

vou contemplando a rua
a igreja e sua fachada...
recordo dia em que fui tua
feliz... mulher e amada!

 
era tão grande e tão bela
a nossa maneira de amar
que começou à janela
sob a prata do luar...

 
coração não quer razão
e nem aceita conselho
d' amor vive o coração
que da alma é o espelho

natalia nuno
rosafogo


mestre na arte...



não há mais tempo é tarde
nasce poema roto e velho...
morre com ele a saudade
do rosto que viu ao espelho.

o tempo é má vizinhança
com tal força causa danos
promessas em abastança
mestre na arte de enganos

porém outros sinais tenho
trago saudade que sobeja
lá do lugar de onde venho
é dor no peito... assim seja

dos meus erros não espanto
são ventos endemoinhados
pecadora fui tanto, tanto!
e trago os ventos 
mudados

desabafo...



Estas palavras que se seguem, são apenas um desabafo... há quem desdenhe a todo o pé de passada, dizendo que as quadras e as rimas são escrita simplória, rural, um ajuntamento de palavras sem graça. Nem quero acreditar nisto, mas vi escrito num site de poesia, por uma pessoa que se diz Poeta com letra grande pois desdenha de quase tudo e de quase todos, não que eu tenha alguma coisa contra a sua opinião, mas não sei o que ruralidade tem de mal, ela que eu trago entranhada nas minhas veias, desdenhar é fácil, difícil é rimar e fazer quadras a preceito, que saiam jóias lapidadas de vocabulário justo e preciso, que ao leitor digam alguma coisa sobre a vida ou sobre sentimentos, afectos etc. Concluo que é apenas inveja de quem não tem leitores apesar de tão aprimorado que escreve....e penso, que diriam os nossos Poetas clássicos ou que diria o nosso António Aleixo o Gedeão, e tantos outros cuja escrita se tornou eterna, inesquecível através dos tempos. Não gostei do que li, a desvalorização da rima e das quadras acho uma afronta a quem as escreve ainda mais palavras vindas dum poeta. Uma coisa é dizer-se que não se aprecia cada um gosta do que gosta, outra é desdenhar como se a pessoa que as escreve fosse ridícula ou a sua poesia menor ou insignificante. Não me incomoda que me achem um poeta inculto, pois vou continuar a escrever quadras e a rimar sempre que a poesia me peça, (as duas coisas são espontaneidade em mim).

Deixo duas quadras de Aleixo que dizem exactamente o que eu gostaria de dizer a quem se julga acima de todos:
Peço às altas competências
perdão, porque mal sei ler,
para aquelas deficiências
que meus versos possam ter.
Julgam-me mal sabedor,
E é tam grande o meu saber
que desconheço o valor
das quadras que sei fazer!

domingo, 16 de janeiro de 2022

quadras perdidas....



banhei nas águas do ribeiro
era chegada a primavera
fui eu que cheguei primeiro
ou estavas à minha espera?

pra te esquecer não bastaria
possuir estrelas, ou até o luar
orfã de amor, mas que ironia!
nem sinto o coração a pulsar.

perdida andei...perdida!
lá no alto dum rochedo
andou m'ha alma iludida
chorou o coração em segredo.

maré veio atrás de maré
onda indo, onda vindo!
vive o coração com fé
e o amor nele eu sentindo

caíu o sonho no vazio
tornou-se a vida  cascata
de repente não é mar, é rio
eu pobre da felicidade à cata.

natalia nuno
rosafogo
quadras perdidas por aí, hoje reuni umas quantas.




quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

poema frágil...trovas




ai a vida deste poema,
está prestes chegar ao fim
poema sem rumo nem tema
ai poema, ai de ti, ai mim!

poema cego noite e dia
acompanha-me de menina
penetra em mim nostalgia
mágoa, estranheza, ruína

poema a perder esperança
a consumir-me em mistério
tempo de memória, criança
tempo que eu levo a sério

palpitas p´las minhas veias
és tudo o que fui e esqueci
contradições em mim ateias
ai poema, ai de mim, ai de ti.

encerras nas minhas mãos
as tuas já escassas linhas
saudade tem sins tem nãos
saudades poema são minhas.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

o rumor da fonte...



o rumor da fonte 
recorda meu rosto sobre a água
olho o horizonte
nele se espelha minha mágoa

doce rapariga ardente
a quem a vida entreabria a porta
hoje tão carente
chega onde chega quase morta

na tarde tudo espelha
treme a brisa a tarde incendeia
no olhar uma dor velha
volta ao coração, volta e meia

palpita sempre aquele beijo
no meu altivo sonho destroçado
e cresce ainda o desejo
no oásis da memória sonho sonhado

logo palpita o coração
ma água espelhado outro rosto
apagá-lo jamais poderão
ficará no aroma do trevo ao sol-posto.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

tarde morna...



a tarde tem ternura de mãe
penduro nela meus olhos
vou olhando o sol também
esqueço da vida escolhos

balança a pomba no ramo
estremece toda a roseira
eu fico lembrando quem amo
por quem coração tem cegueira

ao longe o fogo do outono
um sopro da brisa vem do além
à memória já me vêm o sono
e as lembranças num vaivém

há som quase musicalidade
quando a lua no céu aparece
e eu sinto de ti saudade
já meu coração desvanece

natalia nuno
rosafogo