terça-feira, 17 de janeiro de 2017

outono da minha memória...soltas




Outono ruivo menino
de tons embriagado
olhar brilhante irritado
de caminhar sem destino

o tempo em agressividade
pergunta: que fazes aqui?!?
quero usufruir da saudade
dos tempos que já vivi!

vou vestir-me de giestas
calçar sapatos de jasmim
pronto para ir às festas
não queiras tu ir sem mim

outono assumes mil faces
morrem dias enrubescendo
agasalhos esperam q'passes
e as saudades vão crescendo

de névoa se põem cortinas
vais morrendo aos pedaços
e já nas horas matutinas...
o inverno em teus passos

vão-se cores e o fascínio
ficam ninhos ao abandono
fica o silêncio que é domínio
cigarras em chão de sono

outono de olhar verde
já meu sonho esmorece
em teus dias matar a sede
mas o amor não aparece

e há sol que não caminha
e há abraço que não vem
e na memória redemoinha
sempre a saudade de alguém

natália nuno
rosafogo



domingo, 15 de janeiro de 2017

palavras sem brio...trovas soltas




olhando o meu vazio
e o tempo esquecido
e as palavras sem brio
quase o pulsar perdido

já a memória assume
que tem sinais de caos
desgastada com o lume
rememora pedaços maus

detrás do véu de bruma
o véu  da minha vida
esperança coisa nenhuma
o sonho... coisa banida

minha vontade obsessiva
nem sei que procuro inda
talvez amanhã esteja viva
recupere a alegria ainda...

memórias a sós vencidas
aliadas ao desalento
palavras ao vento erguidas
engendradas são intento

neste espaço que m'acolhe
entorpecida me encandeio
fugaz lágrima não m'molhe
que já o verso levo a meio

e seja de imensa alegria
faça-se a história total
regresse com ironia
a saudade pra meu mal

natalia nuno
rosafogo











quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

trovas soltas...bailado de palavras



baila a papoila ao vento
baila a saudade no peito
bailo eu no esquecimento
meu par é  dor sem jeito

morre a giesta lá na serra
morre o sol no horizonte
anda meu amor na berra
fugiu-me e anda a monte

bate a chuva na vidraça
bate implorando atenção
o meu amor quando passa
leva com ele meu coração

à noite abro o baú
e volto a ver-te partir
mas na volta lá estás tu
no sonho do meu porvir

logo do sonho e do prazer
vai nascendo uma doçura
esperança de te voltar a ter
fazendo  fé,  na tua jura...

e mais um tempo significa
também maior eternidade
e o meu coração aqui fica
nesta incessante felicidade

eu te quero, tu me queres
como a mais funda raiz
eu prefiro e tu preferes
amar quem muito te quis

repara a doce felicidade
do vento que baila na rua
a farfalhar da saudade
de trazer lembrança tua

natalia nuno
rosafogo

trovas de 2004