segunda-feira, 31 de outubro de 2016

pássaro sem norte



meu semblante se altera
perante o vazio do papel
o coração vazio espera
e há arrepios pela pele

estas linhas m'corroem
minha memória inventa
que as dores q'me doem
são dores q' a tristeza tenta

fumo do sonho m'invade
vive em mim... livre sorte!
brasa da vida a saudade
pássaro razante sem norte

a sonolência q' se instala
é gadanha vagabunda
que na memória resvala
deixando angústia profunda

tudo foi e o que me resta
é o fel de alguma ruga
esperada sentença esta
para a qual não acho fuga

mente-me a noite e o dia
calo-me perante a sombra
sinto o peso da melancolia
meu caminho se ensombra

expectantes meus sentidos
sob os clarões do instante
esquecem momentos vividos
vivem este tempo agitante...

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 18 de outubro de 2016

fantasias...trovas soltas



no calor que há no beijo
há uma força de querer!?
que é fogo e passa a desejo
desejo, na boca a crescer.

neste meu sonho indeciso
sonho que é vagabundo
é de amor que eu preciso
a melhor coisa do mundo

se é frígido o teu olhar
pode o coração aquecer?
teus olhos da cor do mar
jamais os vou esquecer!

que venham momentos
de sonho e desvario...
esquecidos os tormentos
à vida... eu sempre sorrio

fortalecemos no sonho
é um bálsamo para a dor
saudade sonho risonho
quando lembro nosso amor

hoje lembro com gosto
o que dantes me alegrava
ventura trazia no rosto
tanto de  ti  eu gostava!?

quando se é muito querido
o amor nos leva à palma
mas se esse amor é fingido
intenta tirar-nos a alma...

 vive-se como  sonhador
da saudade e da lembrança
a pulsar no peito o amor
como da flor a fragrância

natalia nuno
rosafogo

quadras de 02/006 Sta Justa
escrito na aldeia

sábado, 15 de outubro de 2016

aos meus olhos mortais...soltas





palavras molhadas de ternura
gritam na mente eternamente
saudade é minha poesia pura
pejada de sonhos p'la frente...

em mim sempre sol nascente
meus olhos se rendem ao mar
céu sem nuvens, triunfalmente
e  meus anos sempre a lembrar

como se brilhasse a mocidade
e, airosa ... não perdida a graça
é como se fosse real esta saudade
e viver de novo tudo q' ela abraça

passou o tempo e s' mais demora
vem agora mostrar-me a velhice
eu minto verdades e sou por hora
desatino, mesmo sendo parvoíce

o tempo tudo destrói e arruina
mas não vou jogar a vida fora
sou rouxinol, cantando menina
no semblante o brilho da aurora

da tristeza eu quero viver isenta
não encontro nela m' companhia
só amor meu coração movimenta
pois q' sem ele minha alma esfria

natalia nuno









segunda-feira, 3 de outubro de 2016

sonhos atados...soltas



Guardo palavras num frasquinho
como se fossem doce ou vinagre
as vou espalhando pelo caminho
vivendo esp'rança em tempo agre

e assim entre beijos inacabados
o olhar repouso, acalmo o desejo
trago os sonhos com nós atados...
e a esperança na promessa d' beijo

é já na hora tenra da madrugada
q' gritam os pássaros com ternura
na luz que avança leitosa azulada
a gente se ama, é nossa a ventura

amor me fio, janelas escancaradas
deixam entrar os ventos da aurora
e as vestes p'lo chão amarrotadas
é hora do amor... é do amor a hora!

Tudo que tem sombra é sombrio
quando não se alcança o sol à mão
E a vida ás vezes presa por um fio
e aí nos amarra d' dor e compaixão

no pomar tão brilhantes as cerejas
nas moitas sol aceso nos azevinhos
brilham mais m' olhos se os cortejas
acolho eu o cortejo dos teus carinhos

natalia nuno
rosafogo





brejeiras... soltas




que eu não te veja!
nem te sinta sequer
lábios que outra beija
sendo eu tua mulher?!

não posso adiar amor
amor que em mim arde
não tarda não haja dor
n'coração se chegas tarde.

ainda que a noite pese
e a aurora inda demore
talvez o terço inda reze
pra q' coração não chore.

podias ficar comigo
foi essa a tua promessa!
mas se não és meu amigo
volta lá, vai atrás dessa...

natalia nuno
rosafogo

frio e lonjura...



cai a chuva nos loureiros
descendo sobre a folhagem
passaram tantos janeiros
passou também m'imagem

escuto o alento da terra
já a tarde se desvanece
na minha alma se enterra
a mágoa que não esquece

tua mão amiga no ombro
quando cresce a nostalgia
e eu olho com assombro
o findar... de mais um dia

dia que comovido chora
choram as águas do rio
não vejo chegada a hora
de alcançar o casario...

de repente uma janela
numa penumbra ferida
não está quem estava nela
levou-a a morte da vida

loureiro agita a ramagem
e olha o rio impaciente
lá deixei a minha imagem
com um sorriso pungente...

natalia nuno
rosafogo

aldeia 20/09/2002