domingo, 30 de junho de 2013

conquista de mais um dia


 
 
olhos pesarosos tão tristes
como a morte que os ronda
velho tempo!porque insistes?
trazer ao mar mais uma onda?

vou exibindo indiferença
nego abanando a cabeça
talvez a solidão me vença
venha a tristeza me entristeça

minha expressão é severa
continuo a avançar
não vou ficar à espera!
seja a morte a esperar...


conquisto dia logo outro após
viver se é minha condenação?!
não renuncio ao amor que nós
trazemos em maré de paixão.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 28 de junho de 2013

tempo no tempo




escrevo um poema de sol
e um outro só de chuva
este, com o coração mole
que me assenta que nem luva

escrevo poema que é grito
e um outro que é só de dor
um há muito estava escrito
o outro o escreveu o amor

escrevo poema na areia fina
e um outro no ermo deserto
um as lembranças de menina
outro à morte que anda perto

escrevo à juventude perfeita
outro sem me poder recusar
enquanto a memória não se deita
e a cada passo me lembrar.

natalia nuno
rosafogo


quarta-feira, 26 de junho de 2013

vale sempre a pena!




é verde meu olhar
planície serena
valeu a pena amar?
vale sempre a pena.

trago o corpo inteiro
de saudade algemado
nasci em Janeiro...
levo o ano passado.

nos olhos as olheiras
nos lábios os beijos
lembranças matreiras
lembrando os desejos

nos cabelos um cravo
vermelho revolução
no peito que é bravo
um bravo coração...

raízes são cimento
e o sonho liberdade
o amor é o sentimento
do meu povo saudade

nos dedos a palavra
levo avante poesia
nem o tempo me trava
é alicerce do meu dia.

natalia nuno
rosafogo




nostalgia



meu sonho é de palha
lanço o fogo e arde
não há santo que valha
nem cedo e nem tarde

minh'alma sem pecado
da vida esperança é nada
rezo o terço abreviado
p'la morte condenada

sou estrela cadente
galo na madrugada
sou do rio a corrente
sou terra lavrada...

meu ventre é um prado
onde floresceu semente
trigo que foi semeado
em noite de lua crecente

meu sonho é um parto
dá à luz poesia
nunca dele me farto
é nascente de nostalgia.

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 25 de junho de 2013

à hora do poente



sem saber de mim
procurei por ti
tu ausente assim
eu triste me vi...
 
como andei perdida
na noite sozinha
na solidão da vida
triste ía e vinha...
 
coração ao rubro
de sofrer esqueceu
de sonho o cubro
esperando o teu...
 
curvada ao peso
ao peso da vida
meu olhar surpreso
me vê consumida
 
sou mulher perdida
triste é esta sina
desfolhada p'la vida
esqueço fui menina.
 
há silêncio no peito
paira em mim poesia
sofrida sem jeito
pão de cada dia...
 
à  hora do poente
ainda penso em nós
olho-te meigamente
escuto a tua voz...
 
vai correndo o vento
canção forte e brava
eu sem um lamento
da vida fui escrava
 
esperanças sem fim
se calam na boca
sem saber de mim
 a vida se apouca
 
natália nuno
rosafogo










verso moribundo



verso moribundo
já sem alvorada
com o pé no mundo
não lembra de nada

verso que é cansaço
de mim é mortalha
segue passo a passo
sem lira que o valha

verso que é saudade
memória esquecida
ecos de verdade
de toda uma vida...

verso que povoa
o passado de menina
ainda que doa...
é ele minha sina...

verso que sai à rua
que é rosa, é cravo
sol,e  à noite lua
sonho que é bravo.

verso duro de granito
de palavra inconstante
existo... é meu grito!
dele me fiz amante.

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 24 de junho de 2013

derradeira poesia



derradeira poesia
aqui à beira do rio
com minha mão fria
feita a sangue frio

poesia de promessas
sonhos amontoados
 conversas dispersas
escrita de dedos suados

derradeira poesia
cisma de quem pensa
escrita ao meio dia
dum vazio imensa

ilusão ou miragem
ou apenas invento
do rio a outra margem
que no coração acalento

derradeira poesia
de esperança de nada
de lágrimas vazia
ao fim condenada.

perdida de vez
num deserto de cetim
quem sabe talvez
grito saído de mim.

derradeira poesia
à procura de sentido
que raiz a prendia?
donde terá nascido?

rosafogo
natalia nuno




quinta-feira, 20 de junho de 2013

sonhos da juventude


teus beijos me embriagam
 prende-me com teu abraço
mistério profundo tragam
que eu sem eles não passo.
 
sofro com a ilusão fugaz
de te ver pra mim voltar
este sonho tanto me apraz
não vou deixar de sonhar
 
meu olhar já não tem côr
foi-se o verde da esperança
nem as promessas o valor
resta-me só a lembrança.
 
quando passas por aqui
a assobiar tão baixinho
finjo que não te ouvi...
não vá saltar ao caminho.
 
só gosto, só quero ouvir
palavras  possa entender
me atordoam o sentir
e enlouquecem de prazer.
 
com força bem quero forte
um abraço com calor
confundir, deixar à sorte
a orquestração deste amor.
 
quadras ano 2006
 
natalia nuno
rosafogo




segunda-feira, 17 de junho de 2013

palavras embaciadas


trago saudades tuas
assim deste meu jeito
ajeito em palavras nuas
querer que traz o peito

da tua boca o sabor
no corpo trago desejos
orvalhado trago o amor
invento manhãs de beijos

corre o amor nas veias
nas mãos insiste esperança
quero amor que me leias
e me tragas na lembrança

o coração não responde
à solicitação do teu
já se prende não sei onde
de tanto esperar esqueceu.

não recorda o que é viver
traz consigo o amargor
antes prefere morrer
que amar sem ter amor.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 14 de junho de 2013

levo saudade de mim




com medo me interrogo
porque tenho tanto medo?
se a morte passa logo
e não é nenhum segredo

não me foge a lembrança
nem o timbre da m'nha voz
de quando eu era criança
e rezava o «orai por nós»

vou p'la berma da estrada
pareço-me outra qualquer
sigo um pouco intimidada
com a sombra do anoitecer.

não esmoreço nem canso
levo a saudade sem fim
no mundo triste avanço
levo a saudade de mim

levo  versos magoados
sonhos  eu mesma criei
até mesmo os não sonhados
eu mesmo os acalentei...

já pouco lembro de mim
pois pouco do que fui, sou
mas se hoje sou assim?
foi o tempo que me mudou..

quadras de 03/1990
natalia nuno
rosafogo





quarta-feira, 12 de junho de 2013

a vida na aldeia


a mesa era de pinho
amargo era o café
raramente havia vinho
era gente de boa fé

nela não havia vinho
mas havia agua-pé
a mesa era de pinho
amargo era o café.

a sopa era de couve
chá de dente de leão
fartura nunca houve
riqueza era ilusão...

o peixe era sardinha
com rodelas de pepino
lembro a infância minha
era tudo pequenino...

azeitonas retalhadas
com rodelas de tangerina,
são  coisas lembradas
do tempo de menina...

mas nos dias de festa
havia galinha corada
a memória me empresta
ver inda a carne rosada.

era o frio na cozinha
a lareira sempre acesa
quando a comida vinha
pai nosso rezado à mesa

e a mesa era de pinho
os vidros embaciados
punha-se pés ao caminho
os ossos enregelados...

levantava o café fervura
a roupa não enxugava
a mãe olhava com ternura
filhos que Deus lhe dava

miúda de olhos fundos
enchendo a boca de pão
sonhando outros mundos
riqueza era ilusão...

e sempre despenteada
sempre, sempre aquele ar
a roupa desalinhada
a sonhar, sonhar, sonhar!

nas mãos o frio cortante
o rosto recebendo vento
ía o inverno num instante
logo esquecia o tormento

na lareira apagou a chama
um beijo de despedida
hora de ir até à cama
amanhã recomeço de vida.

de papa era o cobertor
que a noite era gelada!
da mãe vinha o calor
e do xaile que ela usava.


natalia nuno
rosafogo

quadras de 1998 (mês?)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

meus dedos se dão à escrita



meus dedos se dão à escrita
com a certeza duma fonte
matam a sede que trago aflita
escondem tristeza não sei onde

há no monte tristes cardos
que abrem só com o luar
andam meus sonhos pardos
por estar longe do teu olhar.

corre o vento, vento brando
tudo nesta vida se apressa?!
vai-se a tarde por onde ando
tímida, já a noite regressa.

trago na boca uma flor
memória que não esquece
escrevo palavras de amor
enquanto o tempo amarelece

anda cansada minha lira
já não canta com o rouxinol
quando anoitece ela delira
por ver,  ir embora o sol

se ouve cantar o mocho
entra então numa cegueira
enche-me meu céu de roxo
fere-me os dedos de canseira.

no peito pássaro cantante
num tempo tornado breve
sonolenta a vida... distante!
ao Deus dará quem nela esteve.

natália nuno
rosafogo

postei estes versos no Luso ...tiveram este comentário duma querida Poeta Karinna a nossa Ka
aqui coloco pela amizade que lhe tenho.

*Não é por acaso que tu és a Poeta da Saudade! Trovas regradas, contudo plenas de sentimento!
Bom estar aqui contigo. Tua opinião sobre mim é algo que me envaidece, pela extrema admiração que tenho por ti mulher e poeta!
Por enquanto, lendo os amigos....
Beijos querida Natalia, Poeta dos versos ricos e que chegam até o leitor, qual brisa da saudade!*


Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=249447#ixzz2VoQ4eqag
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives




domingo, 9 de junho de 2013

moça da aldeia



roupa que o rio lavou
roupa minha interior
segredos meus levou
segredos eram de amor
 
estendi roupa no varal
outra tanta no arame
meu amor levou a mal
medo q'outro me ame.
 
pu-la no chão a corar
ao sol da manhazinha,
meu amor ao passar
perguntou se era minha
 
corada côr da papoila
não consegui responder
era ainda tão moçoila
tive medo de me perder
 
desesperada mas firme
com olhos naufragados
consegui dizer a rir-me
eram segredos guardados
 
com coração em pedaços
vejo-o partir com secura
os olhos seguem os passos
presa no coração a ternura.
 
logo o sol me acariciou
meu amor seguia mudo
enquanto a roupa secou
o silêncio envolveu tudo.
 
feitas as pazes depois
soando p'la noite fora
ouviam-se beijos dos dois
era amor naquela hora.
 
quadras de 1988( mês?)
 
natalia nuno
rosafogo
 
 
muito simples estas minhas quadras, nunca postadas por este motivo,
hoje ao ancontrá-las me trouxeram saudade, aqui as deixo para recordar
meus tempos de jovem.
 






quarta-feira, 5 de junho de 2013

impiedades do tempo




Flores o tempo maltrata
fiz-lhe frente como pude
de inquietação me mata
duro fado, não me ilude
 
morreu já a madressilva
atrás vai o rosmaninho
o tempo é ele uma silva
cruel trazendo espinho
 
até a giesta entristece
 entregue à sua sorte
o sol não lhe trouxesse
o calor, seria a morte.
 
e o cipreste serenado
nossos males ele sente
parece até afortunado
se ouve pranto da gente
 
duro tempo, inclemente
trata tudo com impiedade
a tudo leva pela frente...
e nem lhe a importa idade.
 
as tulipas já se foram
ceifadas ainda em vida
logo meus olhos choram
o tempo causou-lhe ferida
 
memória trago da aurora
passou o tempo apressado
o presente não melhora
se agarrada ao passado.
 
natália nuno
rosafogo
 








terça-feira, 4 de junho de 2013

este fogo que me consome



nem antes e nem depois
e assim por ti espero
não anda o carro de bois
à frente que eu não quero

não é vergonha nenhuma
dizes tu não me convences
eu não sou como algumas
não me seduzes nem penses

estás tão longe nem te vejo
passa aqui para o meu lado
talvez sim te dê um beijo
mas vê lá bem tem cuidado

este fogo que me consome
não tem tamanho nem medida
vem matar-me a minha fome
que ando por ela consumida.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 3 de junho de 2013

trovas...passou mais um dia


 
 
o caminho por onde vou
tem-me o tempo avisado
foi deus quem mo traçou
o que passou é passado...
 
no caminho levo cuidado
e levo sonhos também...
daquele que levo andado?
sei-o eu mais ninguém...
 
hoje mais um dia passei
e o ontem já longe vai...
minhas forças redobrei
mas o tempo sobre mim cai.
 
sou lembrança do passado
e com tristeza o digo...
sou o sobejo dum fado
do fado que trago comigo.
 
mas tudo vai dar ao fim
e o fim é bem pesado...
o tempo se vingou de mim
trago meu tempo alcançado.
 
o que trago no pensamento?
são só lembranças passadas
o tempo traz esquecimento
saudosa as tenho guardadas.
 
natalia nuno
rosafogo
imag- net