sexta-feira, 20 de novembro de 2020

um rol que não finda....




um fio de luz bem estreito
entrava p'lo nosso telhado
levavas-me dentro do peito
tua ausência era meu fado

se ressurgem ou apagam
lembranças a toda a hora
logo os olhos se alagam
e também a alma chora!

passam ocultas aos olhos
as coisas boas da vida...
dela só restam abrolhos
que vida esta feita de lida!

ando s/ tempo nem jeito
vida é uma teia sombria
aconchego-me ao teu peito
que o amor nunca sacia...

como se fosse adolescente
aproximar-me mais quisera
desse teu amor ardente
que não passou de quimera.

se com lábios não te disse
o que tanto, tanto te amei
em teus olhos ainda me visse
se com eles me enamorei.

e no que nos resta ainda
que guardo só pra mim
é um rol que não finda!
com lembranças sem fim

natalia nuno





sábado, 14 de novembro de 2020

outono na alma...

                                                                 


                                fui apanhar as estevas

logo murcharam na mão
coração onde me levas?
certezas elas me dão...

entranço na alquimia
o meu chegar ao ocaso
mente feliz, que dia a dia
à felicidade dá aso...

apanhei também alecrim
que viçoso me olhou
quem dera saber de mim
ao que vim, e pra que estou!

vim ver cair as primeiras folhas
«o cheiro das estevas e da urze»
indago o sentido c/ que me olhas
vem o vento ao ouvido me zurze

levo a rebeldia no olhar
violento é o punho dos dias
contra a morte, que há-de chegar!
levando todas as alegrias.

chego-me ao pé da lavanda
cálido murmúrio no coração
beijos o meu amor me manda
serão sonho ou talvez paixão.

o outono da minha tristeza
sento-me ao lado dos aromas
o coração singelo sem certeza...
sou tua luz, por quem me tomas?

amor, já me levas ao sonho
com olhos d'água no horizonte
apenas  a esperar me ponho
no desejo de beber da tua fonte.

natalia nuno

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

trovas...ardia em nós o desejo



em teus olhos abrasei
ía a tarde no seu esplendor
nessa paixão me deixei
incendiada nesse amor

o ramo firme da roseira
deu rosas até mais não
ao ver-me ali à tua beira
fez prévia premonição

a doce cadência da brisa
insinuado tremor da água
ao ver que a gente precisa
de esquecer a dor e a mágoa

deter o tempo fugitivo
e o aroma ténue da flor
neste sonho enquanto vivo
é tudo o quero, amor!

havia febre no nosso beijo
consumíamo-nos a olhar
ardia em nós o desejo...
entrelaçados no mesmo pulsar

recordam bem os pinheiros
grande a dor do q' não retorna
nossos beijos, os primeiros
dados nessa tarde morna

subitamente... se envelhece!
desassossego a tarde espelha
ai se saudade me trouxesse
teu mel doce quanto o d' abelha


natalia nuno 
rosafogo












domingo, 1 de novembro de 2020

quimera...




vestido com seu aroma
deixei à beira do caminho
aquele por quem me toma
sempre de si bem pertinho

ouvi o coração silvestre
já pincelado de lua...
com as estrelas vieste
rogando que eu fosse tua

branca flor da cerejeira
com sua sensualidade
pirilampos á nossa beira
tudo hoje me dá saudade

fechei os olhos pra cheirar
a frescura do tomilho
recordo, bom que foi amar
entre a folhagem do milho

e o desvelado salgueiro
recorda que tanto amei
amei o teu ser inteiro
ao teu feitiço me agarrei

fica o mel no teu olhar
no meu da terra o verde
és razão do meu sonhar
meu desejo, minha sede

neste desejo enraizado
apago a amargura vivida
deixo amor ao teu cuidado
a quimera desta vida...

natalia nuno




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

à minha aldeia...

trago ainda nos meus dedos
os  fios longos duma teia
trago sonhos e segredos
que me ligam à aldeia

 trago de novo esperança
 ainda longe de ceifar...
 tão longe estou da criança
 na minha aldeia a brincar

 já nem se aquietam as águas
 rio que corre no pensamento
 rio AlMONDA leva mágoas
 que embaciam o meu alento

 ao passares lá pela horta
 o salgueiro q' tanto amei
 olha-me lá, ao alto na porta
 que deste amor te falarei!

 se em dias de nevoeiro
 ficares por mim à espera
 quero ver-te em Janeiro 
 ou quiçá na primavera...

 oiço o soar das alcatruzes
 respiro o ar doce dos figos
 cantam  pássaros nas urzes
 sinto-os todos meus amigos

 rodaram no tempo moinhos
 o trigo que deu nosso pão
 foram outros meus caminhos
 mas não me sais do coração.

LAPAS és um favo doce
da colmeia que te ama
quem dera que ontem fosse
quando juventude era chama.

natalia nuno
(rosafogo)

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

cantiga d'amor...



da minha varanda à tua
vai apenas mais um passo
entre nós se mete a lua
quando damos nosso abraço

nos meus olhos água acesa
dor d'amor que neles ficou
e à noitinha é a tristeza
a sombra que o amor deixou

meus olhos charcos d'água
não sei porque ao mundo vim
trago em mim a dura mágoa
estranha noite dentro de mim

já me perco na escuridão
que em silêncio murmura
ao meu sofrido coração
- a vida agora é noite escura!

tudo me lembra a tua voz
até a chuva batendo mole
brilhava cândida a lua pra nós
hoje é luz morrente a do sol.

a vida já breve, breve
é folha que tomba ao chão
que passando ao de leve
vai-nos roubando o coração

meu coração vagabundo
à porta do teu foi bater
entre eles diálogo profundo
que os deixa enternecer

são eles como dois mendigos
que andam de amor a mendigar
famintos de amor, de amigos
querendo o amor  aprisionar.

natalia nuno
rosafogo
quadras de 1986

encruzilhada...



horas pesadas as de hoje
caem sobre minha estrada
ao destino ninguém foge
é dormente a encruzilhada
trago minha face turvada

linhas das mãos lê-se a sina
e o fundo de mim se abeira
nem a vida já me fascina
só a solidão é companheira
dia e noite, sem que queira

denso escuro me circunda
intranquila sigo em frente
a saudade em mim abunda
a vida agora, estrela cadente
e a morte, terrível serpente

um mal ronda toda a cidade
esconde-se perigo à esquina
quem dera esquecer a idade
caminhar sobre a poeira fina
subir ao muro como menina

tamanha solidão cobre o país
amargo trago destes instantes
foi talvez Deus quem assim quis
nada voltará a ser como dantes
existe medo, um terror imenso
precisa o humano ter bom senso.

natália nuno
rosafogo
escrito em 1990






versos desafinados...



escrevo versos tão desafinados
por não saber como melhor fazer
são como aqueles beijos roubados
que ao dar-se finge-se não os querer.

nos versos me enredo até morrer
por eles trago o coração rendido
e é tanto por eles o meu querer
que sem eles a vida não faz sentido

trago a menina em mim c' carinho
num canto do coração a dormir
ao chegar ao fim deste caminho
nem sei como dela me vou despedir

e é neste sonho m' alma se abriga
já que distante  tudo da vida ficou
sou do tempo, foi ele q' me fez antiga
tempo que na vida tudo me ensinou!

as mãos vão o sonho remendando
na certeza de que só eu as entendo
e às coisas más vou-me negando
por tanto que me foram doendo...

e desta conversa fica a esperança
nas quadras sem razão, mal nascidas
talvez  venha um vento de mudança
e eu escreva quadras menos sentidas.

natalia nuno
rosafogo
1991








quarta-feira, 1 de abril de 2020

fique em casa...



cantai sem limitar o rouxinol
hora perfeita de estar no ninho
é grande o anseio de dias de sol
a comunhão dos seres é o caminho

natalia nuno

sábado, 1 de fevereiro de 2020

singelas...soltas



aonde vou eu peregrina
a algum lugar sagrado?
talvez lembrar da menina
que sempre trouxe ao lado.




os olhos da terra a côr
sempre a olhar mais além
seu coração traz amor
e traz saudade também


natalia nuno

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

singela...



venho subindo os degraus
subindo venho de pés nus
uns dias bons, outros maus
vou levando assim a... cruz.
natália nuno

brejeiras...soltas


aonde vou de laçarote?!
debruçar-me à janela !
levo engomado o saiote,
a sorte vou atrás dela.

anda m' boca com desejo
dum beijo dado ou roubado
que boca terá esse beijo
que o trago tão desejado?

já pressinto a rendição
minha sensatez perdida
com o mover da tua mão
na blusa que trago vestida

natalia nuno

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

a rima em mim é espontânea ...


Estas palavras que se seguem, são apenas um desabafo... há quem desdenhe a todo o pé de passada, dizendo que as quadras e as rimas são escrita simplória, rural, um ajuntamento de palavras sem graça. Nem quero acreditar nisto, mas vi escrito num site de poesia, por uma pessoa que se diz Poeta com letra grande pois desdenha de quase tudo e de quase todos, não que eu tenha alguma coisa contra a sua opinião, mas não sei o que ruralidade tem de mal, ela que eu trago entranhada nas minhas veias, desdenhar é fácil, difícil é rimar e fazer quadras a preceito, que saiam jóias lapidadas de vocabulário justo e preciso, que ao leitor digam alguma coisa sobre a vida ou sobre sentimentos, afectos etc. Concluo que é apenas inveja de quem não tem leitores apesar de tão aprimorado que escreve....e penso, que diriam os nossos Poetas clássicos ou que diria o nosso António Aleixo o Gedeão, e tantos outros cuja escrita se tornou eterna, inesquecível através dos tempos. Não gostei do que li, a desvalorização da rima e das quadras acho uma afronta a quem as escreve ainda mais palavras vindas dum poeta. Uma coisa é dizer-se que não se aprecia cada um gosta do que gosta, outra é desdenhar como se a pessoa que as escreve fosse ridícula ou a sua poesia menor ou insignificante. Não me incomoda que me achem um poeta inculto, pois vou continuar a escrever quadras e a rimar sempre que a poesia me peça, (as duas coisas são espontaneidade em mim).
Deixo duas quadras de Aleixo que dizem exactamente o que eu gostaria de dizer a quem se julga acima de todos:
Peço às altas competências
perdão, porque mal sei ler,
para aquelas deficiências
que meus versos possam ter.
Julgam-me mal sabedor,
E é tam grande o meu saber
que desconheço o valor
das quadras que sei fazer!

natalia nuno

domingo, 19 de janeiro de 2020

essência...



quem vê além da aparência
com subtil e límpido olhar...
busca muito mais da essência
q' a aparência pode mostrar
natalia nuno
rosafogo

sábado, 18 de janeiro de 2020

amor...



rosas, que mais poderia ser?
rosas fontes de promessas...
graciosas, q' trago pra oferecer
amor...amor sem que me peças
natalia nuno
rosafogo

pecadora...



dos meus erros não espanto
são ventos endemoinhados
pecadora fui tanto, tanto!
que trago os ventos mudados
natalia nuno
rosafogo

assim seja...



porém outros sinais tenho
trago saudade que sobeja
lá do lugar de onde venho
é dor no peito... assim seja
natalia nuno
rosafogo

arte....



o tempo é má vizinhança
com tal força causa danos
promessas em abastança
mestre na arte de enganos
natalia nuno
rosafogo

momentos...



fitas de seda amarela
em mim com tanto jeito
a mãe m' punha à janela
com um ar tão satisfeito


natalia nuno
rosafogo

só uma...



sinto-me triste, vontade
espera-me aí que já vou
liberto de mim a saudade
q' em meu coração ficou


natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

apenas um momento....



não há mais tempo é tarde
nasce poema roto e velho...
morre com ele a saudade
do rosto que viu ao espelho.


natalia nuno