quinta-feira, 9 de agosto de 2018

trovas soltas ... peregrinação



golpeia a minha quietude
incendeia minha memória
lança se ao coração amiúde
fico sem chão... nem glória

paredes azedas de tristeza
último derrame de outono
tacteio eu na incerteza...
abulia, tristeza e abandono

outono de tons e cores
trazendo a brisa tão doce
campos despedem-se d' flores
e a solidão agigantou-se

da vida percorri metade
em louca peregrinação
fim da segunda a saudade
sementeira próspera n'coração

natália nuno
2004/01 (mês de aniversário)


trovas soltas... sem data





venho subindo os degraus
subindo venho de pés nus
uns dias bons, outros maus
vou levando assim a... cruz.


aonde vou de laçarote?!
debruçar-me à janela !
levo engomado o saiote,
a sorte vou atrás dela.


aonde vou eu peregrina
a algum lugar sagrado?
talvez lembrar da menina
que sempre trouxe ao lado.


os olhos da terra a côr
sempre a olhar mais além
seu coração traz amor
e  saudade nele também.


anda m' boca com desejo
dum beijo dado ou roubado
que boca terá esse beijo
que o trago tão desejado?


já pressinto a rendição
minha sensatez perdida
com o mover da tua mão
na blusa que trago vestida


natalia nuno
2004/10 (?)

quadras soltas...devaneios




faço m' versos doloridos
os sentimentos espaireço
dolentes ficam os sentidos
em devaneio tudo esqueço


o meu olhar vibrou tanto
quando olhou o olhar teu,
virou um vitral de pranto
porque o teu o esqueceu

de onde vem esta tristeza
de noite ou nas horas claras
da nostalgia é com certeza
saudade q' em mim deixaras


que será? sonho, delírio, amor
momento de êxtase ou saudade
quem sabe talvez seja só dor...
o que o Poeta sente de verdade.


poesia é do poeta a expressão
o som do grito ou do rumor...
ímpetos que vêm do coração
elegias, essências do seu amor.


a dor sempre vem e vai
tão firme é no coração!
dor que de lá não sai
dor que dói até mais não.


tem a alma expressiva
fica dele a recordação
poeta de alma emotiva
de anseio e inquietação


natalia nuno

na aldeia 6/2001

quadras soltas...o alecrim no monte



de aparência severa
vive o alecrim no monte
logo o rosmaninho quisera
viver ali mesmo defronte

só a chuva desvendava
o segredo do seu aroma
e a giesta que o amava
 ao lado logo se assoma

gota de orvalho golpeia
a comovida papoila
logo surge a lua cheia
q'faz sonhar a moçoila

já a noite emudeceu
o bosque foi-se apagando
na saudade tu e eu
vamos Mozart escutando

no ir e vir dos pardais
no baile trémulo das borboletas
apaziguam os versos meus ais
rimas essência dos poetas

vem o sol como um rio
e instala-se em meu peito
evoca memórias e o frio
leva-me as ideias a eito

pirilampo na noite imensa
acompanha a ave ao ninho
já nada é minha pertença
só no monte o rosmaninho

natalia nuno
quadras de 6/2001




quadras soltas... assim seja




o tempo é má vizinhança
com tal força causa danos
promessas em abastança
mestre na arte de enganos

vou pedir à saudade
e ela me trará, que eu sei!
o remédio para a vontade
com q'à vida me entregarei

quem vê além da aparência
com subtil e límpido olhar...
busca muito mais da essência
que a aparência pode mostrar

sinto-me triste, vontade
espera-me aí que já vou
liberto de mim a saudade
q' em meu coração ficou

porém outros sinais tenho
trago saudade que sobeja
lá do lugar de onde venho
é dor no peito... assim seja

vou rezando entre dentes
com alguma inquietação
quem sabe tu entrementes
me entregues teu coração

natalia nuno

na aldeia 6/2001

domingo, 5 de agosto de 2018

trovas soltas... se eu fosse...



fosse eu o luar que te alumia
ou  estrela que te guiasse
serias tu meu sol, todo o dia
rouxinol que me cantasse

fosse eu pedra da calçada
ouvisse longe teus passos
à noite pela calada
sonharia com teus abraços

fosse eu rosa de jardim
meu perfume soltaria
ao passares por mim
meu amor te beijaria

fosse eu a flor do linho
ou flor silvestre do prado
ía esperar-te ao caminho
em êxtase por ti! amado.

fosse eu uma baga doce
ou somente a sua metade
talvez Deus deixasse q'fosse
pra sempre a tua saudade

fosse eu chuva na vidraça
ou de Beethoven sinfonia
e tu homem que me abraça
tempo de felicidade viveria

mas não me resta senão
ser uma simples flor
plantada em teu coração
sequiosa do teu amor

natalia nuno

escritas em 1988,bem longe de ser rosafogo
hoje recolhidas dum velho caderno