sábado, 16 de janeiro de 2021

lembranças...trovas

 


não há mais tempo é tarde,
nasce o poema roto e velho
morre com ele a saudade
do rosto que viu ao espelho

nunca fui eu por inteiro
essa é que é a verdade
só fui da flor o cheiro
logo se foi a mocidade

trago as mãos inda feridas
e afasto de mim o medo
sombras nunca esquecidas
trago em mim em segredo.

crio palavras de ilusão
até na hora mais cinzenta
ponho ao luar m'coração
o amor sempre me tenta

o poema nunca se rende
apesar de roto e velho,
acorda a lua e a desprende
alude meu rosto no espelho

rosto triste de saudade
que a mim já nada me diz
breve foi nele a claridade
e o tempo de ser feliz.

natalia nuno
rosafogo




sábado, 9 de janeiro de 2021

eternas histórias...

3º- 1976

a recordação é bem nítida
ilumina as nossas vidas
é como uma poesia colorida
de mil recordações sentidas

ontem tive saudades tuas
expectativa tão ingénua
já passaram tantas luas
em todas sonhei ser tua

p'las lembranças seduzida
dói-me o coração no peito
desapontada com a vida
esta saudade não tem jeito

histórias eternas como a nossa
trazem sempre insegurança
mas talvez a vida possa
dar-nos sempre nova esperança

por isso saudades matam
a vida a quem tanto amou
e logo os olhos choram
se acaso o amor fracassou.

natalia nuno



rituais...

 



2º- 1976

momento de serenidade
nesta tarde de sol tardio
não é demasiado tarde
quando te olho sorrio

uma força dá-me asas
mesmo que tu não estejas
recordo quando me enlaças
desajeitadamente me beijas

a vida tem seus rituais
outrora tudo nos atraía
fazer amor um dos quais
abraços nenhum prescindia

assim o tempo vai, passou
o que nos une é sabermos
que não se perde nosso voo
amor, seria amargo perdermos

subitamente invade desejo
só nós sabemos o porquê...
mergulhamos num terno beijo
no nosso olhar o amor se vê.

amarmo-nos ainda faz sentido
embora sentimento já visto
mas é como um livro já lido
ou filme a que de novo assisto.

natalia nuno




retrato...




Hoje achei um caderno das minhas primeiras quadras, que iniciaram faz muitos anos...
não sei se vou ter paciência de as colocar todas neste Blog, mas ao mesmo tempo sinto por elas carinho, dado que fazem parte do que durante anos escrevi só para mim. Vou hoje iniciar, colocando algumas que datam de 1976.

1º-1976

olho o retrato e vejo
o compromisso d'amor
ainda sinto o desejo
mas olho-o com pudor

fico imóvel olho o retrato
lembro tudo acontecido
o retrato é o relato
dum amor q' está esquecido

embrulhada nos sonhos
olho o retrato com saudade
estamos nele tão risonhos
era grande a felicidade

ali tão perto um do outro
retrato que eu olho agora
hoje este amor está morto
tão bela história d'outrora.

natalia nuno




sonho...




chamei ao rio, rio de prata
que olhava desde a aurora
hoje saudade dele me mata
ao recordá-lo nesta hora

ouvia nas margens rouxinol
nas águas cristais coloridos
um arco-íris e a luz do sol
deslumbravam meus sentidos

o salgueiro está na lembrança
lágrimas suas caindo ao rio
surge o sonho de criança 
banhando-me cheia de frio

o rio espelhava meu rosto
vinha o sol me acariciava
o pé na água já tinha posto
sorria-te logo à chegada

levavas meu segredo ao mar
beijos não lembro pra quém
alguém que eu supunha amar!
se lembro, não digo a ninguém

natalia nuno
imagem da amiga Manuela Gaspar
o rio da nossa aldeia o Almonda