domingo, 1 de dezembro de 2019

quadras soltas...




trina lá por onde nasci!
teus trinados eu ensaiei
foi com eles que acordei
e a liberdade eu aprendi



quero ouvir a sinfonia
o teu cantar de veludo
quero cantar-te em poesia
quero nada, quero tudo.



nos beirais da minha rua
fizeste ninho que eu sei
o vento o sol e a lua...
tantos sonhos eu sonhei!



tantos perfumes esquecidos
tantos céus já distantes
tantos pensamentos puídos
já nada é como dantes



natalia nuno
rosafogo

desencanto...




a memória já consumida
entre sonho e realidade
e o tempo levando a vida
escassa e magra liberdade

natalia nuno


notas...



as notas ciciantes
das ondas do mar
na praia os amantes
em leve, sussurrar

natalia nuno


perdida...




perdida andei...perdida
lá no alto dum rochedo
anda a alma... iludida
coração chora em segredo

natália nuno


maré...




maré atrás de maré
onda vem onda vai
ai o coração com fé
o amor dele não sai

natalia nuno


o sonho...





despenha-se o sonho no vazio
torna-se a vida uma cascata
de repente já não é mar é rio
e eu pobre, da felicidade à cata.

natalia nuno

eu, ela e o mar...






caminhava à beira mar
ela me olhou eu a olhei
ah...ter asas poder voar!
logo no sonho embrenhei



natalia nuno

domingo, 20 de outubro de 2019

longe de ser perfeita...



venho de longe, cheguei
trago minha alma acesa
ao cair da tarde oscilei
já dobrada na incerteza

vim do ventre da nascente
trago comigo a saudade
de todos fiquei ausente
num tempo já sem idade

no rosto trago a certeza
de que já mal me conheço
se um dia teve beleza?
ao olhá-lo me entristeço!

trago memória da viagem
e a esperança ainda arde
estandarte da minha coragem
se Deus ma deu me a guarde

fui começo e sou o fim
depois desta caminhada
já que o destino quer assim
seguirei a minha estrada

lembro bem de onde venho
mas não sei para onde vou
a esperança a que me atenho
... o tempo não esvaziou!

de flores ladeio a estrada
canteiro de rosas e jasmim
venho da terra semeada
lá atrás a chorar por mim

- trago traços de utopia
-  e longe de ser perfeita!
olhos marejados de maresia
a saudade em mim se deita

meu sonho então tropeçou
o olhar já pouco enxerga
a voz que não canta, cantou
mas a vontade não verga.

os versos são companhia
o espanto de querer viver
e a inocência se associa, a
esquecer, um dia, morrer.

natalia nuno
rosafogo
quadras feitas em viagem
5/2013








domingo, 13 de outubro de 2019

inda há pouco fui uma rosa...



traço... a traços largos
travos que a vida deixou
no coração tão amargos
que a vida de negro ficou

quando a gente imagina
vida é só contentamento
logo o sol nela declina
e sombreia o pensamento

lembranças logo presentes
ou sonhos imaginados?
como o rio levo correntes
águas dos anos passados

hoje sinto-me terra estranha
-ando de mim tão alheia!
se viver é loucura tamanha
a vida em mim foi maré cheia

inda há pouco fui uma rosa
lembrança, longa saudade
se a vida me foi generosa?
passou a manhã, já é tarde

ficou o tempo lá atrás
o sonho é meu amigo certo
agora tudo o resto tanto faz
vivo de coração aberto.

natalia nuno
rosafogo

sábado, 12 de outubro de 2019

o sol voltou...



deixo de parte a tristeza
às vezes maior que eu!
quero olhar a Natureza
este querer Deus me deu.
trago o coração activo
e a saudade de tantos anos
para agasalhá-lo assim vivo
a não lhe dar tantos danos!
e com este correr dos dias
sigo sem medo e sem reparo
sem ânsias, nem agonias
neste meu céu azul claro
e o sonho segue à maneira
no coração é areia fina...
cresce em mim não s' esgueira
trago-o em mim desde menina.

natalia nuno

sábado, 14 de setembro de 2019

trovas coração sem dono...




posso até ter morrido
por amor ou desamor
por talvez não ter sabido
de amar ter algum temor

trago o ânimo esforçado
ando mais morta q' viva
meu contentamento calado
amor é dor  ando cativa!

hão-de vir dias melhores
dias felizes de ir à lua
quem nunca sofreu amores
enamorada dizer sou tua?

quem é que  nunca amor fez
de forma livre e descuidada
há sempre uma primeira vez
que entra a seta envenenada

meu coração ontem roubaste
sem te dar o consentimento
sem ventura logo me deixaste
amor fugaz como o vento

quero encontrar porto seguro
despertar pensamento do sono
perdido em lugar escuro
trago o coração sem dono...

natalia nuno
rosafogo





segunda-feira, 9 de setembro de 2019

o poema...



poema dirige-se a toda a gente
não traz com ele estranheza
dialoga com o passado docemente
e afirma estar vivo de certeza

por vezes conta uma história
e alarga-se até ao infinito
a partir do vivido a memória
molda o poema q'nasce aflito

as palavras o vão polindo
cresce o poema com precisão
e como flor se abrindo
nele o Poeta põe alma e coração.

natalia nuno

(rabiscos)

acaso sem te ver...



meu coração desabitado
não cabe nele entendimento
- logo se lhe dou cuidado
se enche de sofrimento.

os olhos verdes rasgados
resplendor do sol está cegando
andam p'los teus enamorados
a tua ausência chorando...

(rabiscos)
nataliarosafogo
1996

domingo, 1 de setembro de 2019

quadras soltas... lê-me nas entrelinhas



nunca deixes de saber
ler-me nas entrelinhas
os olhos farte-ão crer
que por elas tu caminhas

o espelho do teu olhar
é todo um mar sem fundo
se me olhas chego a cegar
enquanto esqueço o mundo

o mundo é longe, distante
onde alguém anda perdido
pulsa meu coração amante
por tanto lhe ter querido...

coisas escoam do peito
um recado as atravessa
perderem-se deste jeito?!
não é coisa que mereça.

as razões a que viemos
estranhas sombras q' somos
pra ver amor se estivemos
só a olharmos o que fomos

o tempo cresce redondo
tanto nos deu, tanto tirou
em nosso rosto vai pondo
olhar perdido que roubou

não será em vão este olhar
basta leres nas entrelinhas
onde não deixo de cantar
q' a meu lado tu caminhas

natalia nuno
rosafogo






sábado, 10 de agosto de 2019

a palavra...quadras soltas


a palavra magoada, sentida
coração amargo, desilusão
- sem volta... esta partida!
o fio da espada separação.

veio o luar a noite é prata
do amor,  nem um sinal
dor que não ata nem desata
a brotar no coração, é fatal.

o silêncio é grito mais forte
quando se está triste e só
na crina do vento vem a morte
num sopro rijo... sem dó!

este vento que me invade
e esta mágoa que me corre
encanece o cabelo a saudade
e a palavra sentida já morre.

natalia nuno
rosafogo


Distante há tempo de ti,
Voltei pelo vai do vento.
Parei aqui um momento
E muita luz eu senti!

Parabéns, querida, eu vi
Lindos versos e atento,
Veio à alma o sentimento
Que a beleza está aqui.

Linda a tua poesia
Que a minha alma vazia
Ficou repleta de luz.

Teus versos têm a magia
Da luz que nos alumia,
Encanta a alma e seduz!

Grande abraço, querida amiga! Desculpe-me a ausência por tanto tempo. Laerte. 
31 de agosto de 2019 às 07:37

Fico muito grata amigo Laerte, adorei o soneto que me deixou, muito belo, obrigada pelo apreço às minhas quadras. Meu abraço.


sábado, 13 de julho de 2019

quadras soltas...




alma cansada, choro estanca,
o coração de amar não refreia
levo ao peito uma rosa branca,
levo-o de amor, e alma cheia

já que te amei por tantos anos
foste o mar onde me ia deitar
lembro agora  tristes enganos
e sonhos a vicejar no olhar.

dei-te o coração na hora
como se d' sonho a despertar
o amor dentro dele mora
pedindo-me para te amar

natália nuno
versos soltos  repescados de sebenta
data 2001








improviso...




No outono da vida
há duas noites de lua
numa está o luar de partida
na outra o desalento flutua


Barco vai deixando águas
há muito perdi meu remo
boas memórias e mágoas
o inverno o que mais temo

Importa preservar o sonho
proteger-me em teus braços
não quero tempo medonho
quero sorrisos e abraços

Quero anunciar a felicidade
que me atrai e me aprisiona
fascínio, amor e saudade
e sonho não m' abandona

natalia nuno
de 2001

segunda-feira, 17 de junho de 2019

a uma flor..



Ele, há lá flor mais bela
que te possa ofuscar?!
Seja branca ou amarela
não precisas invejar...
És de raiz bem nascida
q' te impede de murchar
nem vais ficar esquecida
se a morte a vida levar
Se o tempo é teu algoz!?
Mas esperança é sonho!
Não seja a lembrança atroz
nem o amanhã medonho
Não te tirem a esperança
de amanhã feliz tu seres
recorda-te sempre criança
para feliz assim viveres...
Esquece da vida revezes
de tudo o que ela te afronta
o que é preciso é às vezes
vivermos ao faz de conta.
A vida matiza dias às cores
põe-te o coração a bater
se te invejam outras flores...
tens afecto e bem-querer.
natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 6 de junho de 2019

zumbe a saudade à minha volta...



cantam pinhais na distância
pássaros me aguardam por lá
em sonho voltarei à infância
rever quem por cá já não está.

vou falar com a minha gente
saciar a sede com água pura
ser flor que vibra inocente
esquecer esta tristeza escura

a vida dispõe e nos talha
em primavera verão outono
a morte tarda mas não falha
logo no inverno o abandono

voa a calhandra rompe o céu
sempre menina aqui deitada
voou o tempo não sou mais eu
pobre de mim e dela coitada

ruas, roseiras ciprestes muros
as manhãs abrem-se às auroras
e os homens de aspectos duros
cheios do tempo, malditas horas

mulheres cozem o pão, oração
enchem cântaras ao amanhecer
amam marido e filhos c'devoção
sentem-se mortas antes de morrer

oiço o frio cantar da fonte
e no lagar a côr rubra do vinho
criança ainda este o horizonte
a memória leva-me ao caminho

é presente em mim enraizado
prisão de aroma e de luar
o céu que me sorria estrelado
vou amar-te até o coração gelar

nossa casa branca ainda lá está
ninguém a pode esvaziar assim
pássaros me aguardam por lá
lembranças esperam por mim

uma vez mais no meu passado
mesmo sonho, mesmo encanto
instante de sorte tocado...
ventura imensa, calado o pranto

terei sempre esta rebeldia
de desafiar o sonho e a solidão
até à luz que se apagará um dia
e eu volto a ti de alma e coração

natalia nuno
rosafogo
à minha aldeia, ao meu rincão







sexta-feira, 24 de maio de 2019

vê-la perdida...trovas



vai o riacho apressado
pressa de chegar ao rio
com medo de ser secado
logo à chegada do estio
*
também  a vida quieta
que não me traz satisfeita
às vezes parece uma seta
q' em lágrimas me deixa
desfeita...
*
os olhos miram o prado
penso q'o amor é loucura!
bate o coração apressado
p'lo amor que pouco dura
*
choram folhas do salgueiro
e o riacho passa ao lado
como aquele amor primeiro
deixando-me neste estado
*
deixo-me levar p'lo vento
levo comigo a saudade
sem amor, viver é violento
tão mau como tempestade
*
foi-se faz tempo a formosura
e o amor q' não era perfeito
n' quero tamanha desventura
quero esquecê-lo no peito
*
passa o riacho atrevido
e o salgueiro aqui ao lado
e o meu coração caído
de solidão a sofrer calado
*
já as sombras daqui se vão
chegou a noite, findou o dia
eu aqui nesta condição
sorrindo à vida enquanto
a perdia...

natalia nuno
rosafogo





sexta-feira, 17 de maio de 2019

vietname ardente...



viajo até um mundo diferente
meu coração é todo agitação
novos momentos, nova gente
terra cálida como meu coração

templos, história, divindades
sobrevivem mitos milenares
e eu prendo-me de saudades
de em teus braços me enredares

sonhos, fontes borbulhantes
aqui no outro extremo da terra
barcos e habitações  flutuantes
entre tréguas, paz e guerra...

gente que traz nos braços flores
e nas montanhas arroz semeiam
seguem em frente esquecem dores
desenha-se novo tempo, q' anseiam

Vietname, Cambodja Laos um a um
onde sempre rompe o nevoeiro
onde vidas se aquietam e nenhum
baixa a resistência, venha o primeiro.

natalia nuno
escrito na viagem 13/02/2019
vietname, camboja e laos



hora d'amar...



é já a hora da madrugada
gritam pássaros c' ternura
na luz leitosa azulada
há quem ame com loucura

entre beijos inacabados
e roupas descompostas
de ancas bem enlaçadas
digo e dizes de mim gostas

janelas escancaradas
entra o vento da aurora
e as vestes amarrotadas
espalham p'lo chão agora

são lembranças de doçura
brilham os olhos se os cortejas
quando abraças com ternura
ardendo quando me beijas

 amor não vou libertar-me
amor que foi sempre assim
de ti não vou separar-me
o destino te trouxe até mim.

natalia nuno
rosafogo








sábado, 26 de janeiro de 2019

saudade vem a meu rogo...trovas



escrevi versos a chorar
com saudade te vi partir
chorando aprendi a amar
saudade lágrima a cair

saudade não sai de mim
nem das rimas que te dei
levo mágoa até ao fim
e a escrever não voltarei

saudade o mal não cura
vem ao coração a m' rogo
anseio e ardo na ventura
de ter-te por perto...logo!

gela-me o peito e o passo
a saudade sempre demora
olho-te no meu regaço...
de amor cheia nessa hora

teu rosto, traz meu coração
e fogo que nos teus olhos vi
nos meus é agora só solidão
de lagrimar triste os vesti...

natalia nuno
rosafogo



sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

os olhos d'alma...trovas soltas



passam nuvens espavoridas
e o vento sopra atrevido
passa o tempo em nossas vidas
dói o choro dos olhos caído.

fugida também a formosura
pelo tempo maltratada
resta porém a ventura
que ainda floresce na estrada

pisa-nos o tempo sem dó
deixa-nos flores sem encanto
logo apenas seremos pó
quimeras, magia, quebranto

trago o destino nas linhas
marcam elas a minha vida
mãos cansadas estas minhas
no mundo à sorte de corrida

plantaram flores na primavera
têm mais anos que a idade
traçam poemas na espera
de os reviver com  saudade

natália nuno
rosafogo



cartas d'amor...trovas



cartas de amor recebi
com beijos da tua boca
tantas vezes eu as li
acabei por ficar louca

cartas d'amor um jardim
de sonhos e de ventura
de rubras rosas, carmim
recordá-las é loucura

trago-as junto ao coração
embora seja imprudente
não vão elas cair ao chão
e este ficar doente...

cartas d'amor são braseiro
o mesmo sinto ao beijar-te
vai Dezembro, vem Janeiro
quero com beijos sufocar-te

meus olhos verde esperança
a que o tempo roubou a côr
côr que ficou na criança
que lia as cartas de amor...

minha alma toda ela floria
e tuas mãos me enlaçavam
e eu rosa em botão m'abria
aos lábios q' me beijavam.

cartas d'ámor vôos de condor
tantas as cartas foram lidas
versos e letras de amor
enfeitaram nossas vidas

restam registos de saudade
nestas cartas, agora lenda
cartas escritas na mocidade
por corações sem emenda

natália nuno
rosafogo






quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

fiz pacto com a dor... trovas soltas



chegou a idade sem nenhum aviso
foram tantos, os anos que passaram
em vez  de me levarem ao paraíso
os anos ao inferno me entregaram

lembranças vêem ao pensamento
escrevo-as com veia de nostalgia
meus sonhos levados pelo vento
fiz pacto com a dor, volta alegria

e o júbilo no coração é superado
e serena canto à vida e cantarei
esqueço desenganos, do passado
nenhum insulto à vida proferirei

tarde está solarenga, hora bendita
traz-me à janela dourado esplendor
nestes versos toda a ternura é dita
num último adeus que digo ao amor

nesta tarde sem vento e sem trovão
uma saudade enorme coração aperta
bem que eu gostaria, mas em vão...
que a primavera voltasse, fosse certa

a tarde não trouxesse ainda o poente
deixasse-me sonhar coisas espantosas
que na vida fosse ainda tão inocente
onde o doce tempo faz abrir as rosas

natalia nuno
rosafogo